28 de março de 2024.
Por: Rebeca de Souza Silva
Uma das questões mais intrigantes para os pesquisadores é a origem das aves e suas características corporais, como as penas, que evoluíram permitindo o voo. Raríssimas descobertas paleontológicas recentes, como a feita em 2015 por Lida Xing, paleontólogo professor associado e consultor de doutorado da Escola de Ciências e Recursos da Terra, Universidade de Geociências da China, Pequim (CUGB), e sua equipe no Angbamo, município de Tanai, distrito de Myitkyina, província de Kachin em Myanmar, estão fornecendo informações preciosas sobre as aves do Cretáceo Médio. A equipe encontrou duas pequenas asas preservadas em âmbar, que contém ossos, penas, músculo, pele e garras, que constituem o primeiro registro fóssil tridimensional desse tipo.
Antes desse achado, os registros fósseis de aves estavam limitados a impressões em rochas (2D) e penas soltas em âmbar, que não permitiam uma compreensão muito precisa sobre as espécies que as carregavam. Com a ajuda de análises osteológicas, utilizando raio X, os pesquisadores concluíram que, devido ao tamanho dos ossos, proporções dos dedos e as articulações mal definidas (ulna e rádio faltando partes proximais), os dois espécimes encontrados eram provavelmente de filhotes de um grupo de aves extinto: os Enantiornithes, que possuíam garras nas asas, verificadas no achado. As penas encontradas nos fósseis eram muito semelhantes às das aves modernas, com arranjo e estrutura parecidos, mas com uma curiosidade: eram semelhantes às das aves adultas de hoje e não possuíam indicativos de mudas, sugerindo que os estágios juvenis desse grupo eram precociais, ou seja, se tornavam independentes dos pais pouco tempo após o nascimento, e já nasciam com penas quase prontas para o voo.
As penas mantiveram suas cores originais, e os estudos feitos com ajuda de câmeras e microscópios altamente tecnológicos indicam que as aves encontradas possuíam tons claros, como o branco, e tons mais escuros de marrom. Além disso, as técnicas de análise tafonômica de fluxos de resina e exposições de superfície em âmbar revelaram outros detalhes fascinantes: marcas de garras lutando contra a resina em um dos fósseis que indicavam que o animal ficou preso na resina e tentou se soltar, e a ausência de sinais de luta e exposições ósseas no outro, sugerindo que a asa foi dissociada do corpo antes de ser preservada em âmbar (possivelmente por um predador ou por parte do corpo ter sido exposta sem se preservar).
No fóssil em que há sinais de luta, percebe-se claramente bolhas e a aparência leitosa do âmbar, que indicam a decomposição dos tecidos após sua inclusão na resina. Já no outro fóssil, essas características são muito menos presentes, o que pode indicar que essa asa pode ter secado antes de ser preservada. É surpreendente como dois fósseis inclusos em âmbar podem fornecer tantos detalhes sobre espécies que compartilharam o mundo com os dinossauros e precederam as aves modernas. Essa descoberta é fundamental para outros achados de aves e podem acelerar as respostas sobre esse fascinante grupo.
Texto fonte: XING, Lida e cols. Mummified precocial bird wings in mid-Cretaceous Burmese amber. Nature Communications , v. 7, n. 1, pág. 12089, 2016. Disponível em: <https://www.nature.com/articles/ncomms12089> Acesso em: 23/03/2024.
Fonte e legenda da imagem da capa: Fotomicrografia de um dos fósseis de asas de aves do Cretáceo Médio encontrados. Figura 2 do artigo. <https://www.nature.com/articles/ncomms12089> Acesso em: 23/03/2024.
Texto revisado por: Luiza Borges e Alexandre Liparini Campos.