Eventos climáticos e a produtividade primária do Quaternário Tardio

30 de junho de 2022

Por: Thamiris Matias

As alterações climáticas conseguem influenciar o modo de vida dos seres vivos diretamente ou indiretamente, como no caso de plantas que crescem melhor em locais onde há mais sol e em épocas de tempo nublado elas começam a ter manchas amarelas em suas folhas. Isso tem como consequência uma menor taxa de produção de energia pela fotossíntese, porque esse tipo de planta prefere ambientes ensolarados. No caso de grandes eventos climáticos, a influência pode acontecer mesmo depois de anos. Um exemplo disso, é a glaciação que afetou a produção de energia no ambiente marinho e pode ser analisada a partir de algas marinhas microscópicas como foi feito no artigo “Mecanismos de fertilização inferidos através do registro de cocolitoforídeos durante o quaternário tardio na margem continental sul-brasileira”.

Esse artigo citado teve como objetivo entender quais mecanismos de fertilização das águas têm influência sobre a produtividade primária do oceano e a sua relação com eventos climáticos que marcaram o final do Quaternário – um período do tempo geológico que inclui os milênios mais recentes da idade da Terra – no Sul do continente brasileiro. A produtividade primária pode ser caracterizada como a taxa de conversão de energia solar ou química para produzir substâncias orgânicas a partir de reações químicas pelos organismos autotróficos. Esta produtividade foi analisada utilizando cocolitoforídeos como indicadores, visto que são algas marinhas unicelulares, realizam fotossíntese e por isso necessitam habitar a zona fótica do oceano.

O estudo utilizou sedimentos do sul do continente brasileiro de um período de tempo de mais de 20 mil anos. As autoras analisaram sedimentos de uma época anterior a última glaciação até o período atual, o Holoceno. Nestes sedimentos foram achadas várias espécies de algas marinhas para realizar as análises do Quaternário Tardio. Observaram-se que em períodos com alta incidência solar e predomínio de ventos houve uma maior produtividade primária das algas marinhas, enquanto que em períodos marcados com menor incidência solar a produtividade diminuiu, como aconteceu no período da última glaciação. Eles conseguiram chegar a esse resultado analisando substâncias que foram encontradas nos sedimentos junto às algas e que são consequências de como os eventos climáticos influenciavam o meio ambiente em diferentes épocas.

Dessa forma, concluíram que a produtividade primária é influenciada pelos ventos e que eles estão relacionados fortemente à insolação. Isso porque, durante o período glacial os ventos auxiliaram na fertilização das águas carregando poeira e isso ajudou para que o período logo depois da glaciação tivesse a produtividade aumentada quando comparada com um período do Quaternário Tardio anterior a última glaciação. Além disso, a insolação também está relacionada com a produtividade primária, já que a luz solar é indispensável para a fotossíntese das algas.

Artigo fonte: Gonçalves, J.F, & Leonhardt, A. (2022). Mecanismos de fertilização inferidos através do registro de cocolitoforídeos durante o Quaternário Tardio na Margem Continental Sul-Brasileira. Revista Brasileira De Paleontologia , v. 25, n. 1, p. 76-89. DOI: 10.4072/rbp.2022.1.06. Disponível em: https://sbpbrasil.org/publications/index.php/rbp/article/view/228. Acessado em 15/09/2022.

Fonte e legenda da imagem de capa: Alga marinha microscópica do tipo cocolitoforídeos. Autoria de: Richard Lampitt, Jeremy Young, The Natural History Museum, London. Extraída do site commons.wikimedia.org. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Coccolithus_pelagicus.jpg. Acessado em 15/09/2022.

Publicado por Alexandre Liparini

Mineiro, gaúcho, sergipano, e por que não, alemão? No caminho sempre a paleontologia como paixão e agora como profissão. Adora dar aulas e pesquisar sobre origens e evolução. Se esse for o tema, podem perguntar, por que não?

Deixe um comentário