Registro de pegadas fósseis revela vida de répteis marinhos

Em 12 de setembro de 2019

Por: Carolina Gomes Ferreira

Cientistas da Universidade Federal do Paraná relataram, em 2004, o primeiro registro de icnofósseis no sul do Estado de Goiás, isto é, de rastros fósseis que indicam atividade biológica de um grupo de tetrápodes que viveu no período Permiano (cerca de 298 milhões de anos atrás), equivalente ao último período da Era Paleozoica. Essas impressões observadas em uma área da Bacia do Paraná, denominada Formação Irati, correspondem a pegadas fósseis de répteis marinhos da família Mesosauridae, grupo que se encaixa dentro dos Sauropsida, popularmente conhecidos como “face de lagarto”. Vale ressaltar que apesar de fósseis desses animais serem amplamente encontrados na América do Sul, por exemplo, evidências de suas atividades são atípicas, por isso a importância de tal registro.

Para a realização do estudo foram coletadas amostras de rochas calcárias contendo rastros fósseis de mesossaurídeos. Por conseguinte, tornou-se possível observar como seriam as pegadas dos animais a partir de padrões, espaçamento, formatos e profundidade de traços presentes nas rochas. Esses traços corresponderiam a marcas de alguns dos dígitos desses animais formadas, provavelmente, durante sua locomoção. Ademais, pôde ser verificado que havia diferenças de tamanho entre os apêndices locomotores, sendo os posteriores maiores que os anteriores. Essas considerações, associadas a informações já relatadas em outras pesquisas, como a presença de membranas entre os dedos que se assemelhavam às observadas em nadadeiras e a existência de uma longa cauda que serviria para a impulsão, tornaram-se, portanto, indicações pertinentes de que os mesossaurídeos eram nadadores ágeis e de que realizavam movimentos de arraste durante a natação. Dessa forma, após a reconstituição e exame das características do ambiente e a associação com as impressões encontradas, inferiu-se que esse grupo de tetrápodes teria origem, adaptações e hábitos de vida aquáticos, reforçando, por exemplo, achados semelhantes provenientes de uma área conhecida como Formação Whitehill, na África.

O encontro dos icnofósseis de Mesosauridae no Brasil é, por isso, de grande relevância para trabalhos paleontológicos, evolutivos e geológicos e abre um leque de novas perspectivas para o estudo de comportamentos de organismos já extintos e de seus descendentes que, em conjunto, constituem a história natural.

Artigo fonte: Fernando Antonio Sedor, Rafael Costa da Silva. (2004). Primeiro registro de pegadas de Mesosauridae (Amniota, Sauropsida) na Formação Irati (Permiano Superior da Bacia do Paraná) do Estado de Goiás, Brasil. Revista Brasileira de Paleontologia, v. 7, n. 2, p. 269-274. Doi: 10.4072/rbp.2004.2.21 <Clique aqui para acessar o artigo fonte>

Fonte da imagem: Extraída do sítio blog.frontiersin.org/2018/10/08/ecology-evolution-mesosaurus-semi-aquatic-reptile/ Acessado em 10 de setembro de 2019.

Publicado por Alexandre Liparini

Mineiro, gaúcho, sergipano, e por que não, alemão? No caminho sempre a paleontologia como paixão e agora como profissão. Adora dar aulas e pesquisar sobre origens e evolução. Se esse for o tema, podem perguntar, por que não?

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