Ensino não-formal de Paleontologia na Universidade Federal de Sergipe

22 de março de 2020

Por: Camila Grigolo Silva

Imagine que você é um estudante do 7º ano de uma escola pública de Sergipe e está aprendendo, em ciências, sobre Paleontologia. Talvez o ensino dentro de sala de aula pareça chata e monótono. Agora, imagine que você visite uma Universidade Federal, referência em pesquisas e portadora de diversos materiais reais que se usam no estudo prático de Paleontologia. Será que uma metodologia prática como essa surte algum efeito nos alunos?

Nos dias atuais, o ensino fundamental das escolas cedeu seu lugar de disseminador de informações importantes para a vida das pessoas, para ensinador de matérias que caem em vestibulares, principalmente no Enem. Essa preocupação da preparação para o ingresso em um Ensino Superior está cada vez mais precoce, o que compromete o ensino das chamadas matérias transversais. O ensino formal se refere a este ensino fixada pelo planejamento escolar; já o ensino não-formal é responsável por abranger temas muitas vezes deixados de lado, como é o caso da Paleontologia.

O Laboratório de Paleontologia da Universidade Federal de Sergipe participou, em 2008, do ensino não-formal de alunos de escolas particulares e estaduais, disponibilizando aos estudantes sua rica coleção de fósseis que contam, inclusive, a história da abertura do Oceano Atlântico. A partir desta prática, avaliaram os conceitos aprendidos pelos alunos e ainda procuraram uma avaliação final dos professores, no intuito de saber se essa metodologia teria sido realmente enriquecedora às crianças.

Os fósseis são vestígios de vida, ou restos de organismos propriamente ditos, ou vestígios de algum ser que o fez. Para ser considerado um fóssil, a peça deve datar mais de 11.000 anos de idade, ser derivado de uma espécie extinta ou ter sofrido alguma mudança em sua composição química original. Isso significa que é possível encontrarmos fósseis de espécies ainda existentes, o que deixa as práticas ainda mais interessantes às crianças.

O ensino de Paleontologia se enquadra como uma matéria transversal dentro do conteúdo de Meio Ambiente. Apesar de negligenciada, é muito importante para o compreendimento de diversas ciências como a Biologia, Geografia e História.

Além do conhecimento teórico a respeito do tema, passado aos alunos das escolas E.M.E.F. Anísio Teixeira; E.M.E.F Juscelino Kubitschek; E.M.E.F Olga Benário, E.M.E.F Presidente Vargas, E.M.E.F Santa Rita de Cássia e E.M.E.F Sérgio Francisco, os mesmos tiveram o contato com o acervo completo da UFS. Este contato com uma incrível diversidade de fósseis, como invertebrados e vertebrados marinhos, esqueletos da megafauna mamífera local, lenhos, entre outros, referentes a diferentes períodos geológicos, como Pleistoceno, Cretáceo, e muito mais. Esses fósseis foram extraídos, principalmente, das Formação Riachuelo, Formação Cotinguiba e Formação Calumbi, integrantes da Bacia de Sergipe. Por isso, são fundamentais para recontar a história local, tanto a composição de sua fauna e flora ao longo do tempo quanto sua formação geológica.

Após a visita à universidade, a equipe do laboratório realizou uma pesquisa com os alunos a respeita da experiência. Por meio de tal, verificaram que os conceitos e a importância a respeito dos fósseis foram bem assimilados. Além disso, os alunos valorizaram notavelmente a presença de monitores na visita, indicando que foram essenciais no esclarecimento de dúvidas, ensinamento aprofundado e organização, de maneira dinâmica, do passeio. Ainda, muitos demonstraram prazer em atividades fora do ambiente escolar, afirmando ser algo que estimula a vontade de aprender e estudar.

O resultado das pesquisas feitas com os professores, coerentemente, todos elogiaram e afirmaram ter sido uma experiência muito didática aos alunos, além de atender seus desejos de sair da escola. Trouxeram, ainda, pontos importantes como uma técnica de visualização do conteúdo, que facilita sua compreensão. Foi levantado, ainda, a importância do contato dos jovens com o ambiente universitário, que se sentiram inspirados em um dia poder participar da instituição de ensino superior. Como conclusão, perceberam que dinâmicas a respeito das matérias ensinadas em sala são fundamentais para um ensino de qualidade, para evitar defasagens e instigar os alunos.

Conclui-se, portanto, que a prática realizada pelo Laboratório de Paleontologia da UFS, de fazer uma aula prática com alunos de escolas estaduais foi um sucesso. O ensino não-formal, além de se apresentar como um vínculo entre as principais vertentes do ensino superior, ensino, pesquisa e extensão, ainda contribuiu para o ensino de forma aprofundada de matérias transversais pouco abordadas em livros didáticos do Ensino Fundamental. Além de promover o interesse dos jovens, o contato direto com fósseis estimulou o aprendizado prático e foi de agrado inclusive dos professores, que afirmaram ser um método que assegura a qualidade do ensino.

Artigo fonte: Almeida L.F., Zucon M.H., Souza J.F., Reis V.S., Vieira F. S. (2013). Ensino de Paleontologia: uma abordagem não-formal no Laboratório de Paleontologia da Universidade Federal de Sergipe. TERRÆ DIDATICA, v. 10, p. 14-21. <Clique aqui para acessar o artigo fonte>

Fonte da imagem: Figura 1 do artigo fonte.

Publicado por Alexandre Liparini

Mineiro, gaúcho, sergipano, e por que não, alemão? No caminho sempre a paleontologia como paixão e agora como profissão. Adora dar aulas e pesquisar sobre origens e evolução. Se esse for o tema, podem perguntar, por que não?

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