Colorindo fósseis: a redescoberta do pigmento avermelhado

Em 13 de setembro de 2019

Por: Lívia Stemler de Godoi Quintão

Você já se perguntou como a cor de animais extintos é determinada? Essa pode ser uma tarefa difícil, uma vez que os registros fósseis raramente apresentam tecidos moles preservados o suficiente para se identificar pigmentos, o que abrange justamente as partes referentes à coloração, como pele, pelos e penas. Assim, os paleontólogos se limitavam, em muitos casos, a pintar esses animais utilizando as cores que encontravam em seus ancestrais vivos mais próximos.

Nos últimos anos, no entanto, novas tecnologias nos deixaram cada vez mais próximos de descobrir como esses bichos realmente se pareciam, permitindo aos pesquisadores identificar restos de pigmentos nos fósseis. Entretanto, outro obstáculo surgiu: apesar de muito importantes, essas técnicas eram menos eficazes qualitativamente e muito invasivas, sendo necessária a destruição de parte das peças para a realização do estudo, o que impede, por exemplo, de se utilizar fósseis mais raros.

Felizmente, esses problemas também estão sendo superados, como mostra o estudo publicado na Nature comunications em maio deste ano, no qual cientistas do Reino Unido, Estados Unidos e Espanha trabalharam em conjunto, apresentando um método não destrutivo e extremamente sensível que utiliza ferramentas de raio-X super potentes. Nesse artigo, Phillip Manning e colaboradores estudaram o fóssil de um mamífero extinto, mapeando a presença de feomelanina – um tipo de melanina responsável pelo tom marrom avermelhado, encontrado, por exemplo, na pelagem de tigres. Apesar de já existirem estudos semelhantes para a eumelanina (pigmento melanínico escuro), esse é o primeiro protocolo desenvolvido para o pigmento avermelhado, que é o segundo mais abundante em mamíferos. Quanto ao objeto de estudo, os fósseis utilizados datam de cerca de 3 milhões de anos e são resquícios do Apodemos atavus, uma espécie de roedor já extinta que vivia na Alemanha.

Os resultados do mapeamento indicaram o padrão de coloração do A. atavus, sugerindo que é bem semelhante ao de outras espécies viventes do mesmo gênero. Esse trabalho abre caminho para outras pesquisas, ajudando a elucidar a questão da tonalidade em diferentes seres vivos e como essa característica evoluiu. Um estudo como esse apresenta grande importância paleontológica, já que saber da cor de um animal nos permite abstrair informações diversas, nos dando pistas de como seu organismo funcionava, como ele se comportava e qual era sua relação com o ambiente e com outros animais ao seu redor.

Artigo fonte: Phillip L. Manning e colaboradores. (2019). Pheomelanin pigment remnants mapped in fossils of an extinct mammal. Nature communications, v. 10, n. 1, p. 2250. Doi: 10.1038/s41467-019-10087-2 <Clique aqui para acessar o artigo fonte>

Fonte da imagem: Modificado da Figura 1a do artigo fonte.

Publicado por Alexandre Liparini

Mineiro, gaúcho, sergipano, e por que não, alemão? No caminho sempre a paleontologia como paixão e agora como profissão. Adora dar aulas e pesquisar sobre origens e evolução. Se esse for o tema, podem perguntar, por que não?

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