02 de julho de 2022
Por: Marianna Borburema
A espécie Carcharocles megalodon, ou melhor, o megalodon foi o maior tubarão que já existiu, chegando até surpreendentes 18 metros de comprimento e habitava as águas oceânicas do mundo inteiro! Ele viveu em tempos pré-históricos, nas épocas geológicas do Mioceno e Plioceno, durante o período Terciário da idade da Terra. Sendo um parente próximo do nosso atual Tubarão Branco (Carcharocles carcharias), ambos compartilham algumas características, como conseguir viajar imensas distâncias, predar mamíferos marinhos, mas principalmente ser um predador de topo, ou seja, quando são adultos nenhuma outra espécie é capaz de predá-los, fazendo deles o terror dos mares! Inclusive, essa espécie fóssil é o maior predador de topo que já existiu!
Apesar desses animais serem fantásticos, a necessidade de estudar sua extinção se dá para entender um grande problema ecológico atual: os efeitos da extinção de predadores de topo. Atualmente, estamos enfrentando um declínio significativo de predadores de topo, como os próprios tubarões atuais, muitas vezes por impacto antrópico direto. Esses predadores desempenham um papel fundamental para a manutenção de ecossistemas estáveis e saudáveis ao manter os níveis populacionais ideais de suas presas. Em sua ausência, ocorre um efeito chamado de cascata trófica, pois a perda no topo da cadeia causa um aumento de suas presas, competições entre espécies que antes não havia e uma super demanda por energia, impactando enormemente toda a paisagem e os seres que ali estão, inclusive os humanos. Além disso, por serem o último nível trófico da cadeia alimentar, esses animais tendem a existir em menor quantidade naturalmente por haver menos energia disponível, e por isso, são mais vulneráveis ao declínio populacional. Por essas razões é tão importante entender os mecanismos de extinção dos predadores de topo.
Dessa forma, como nenhum predador de topo marinho foi extinto ainda, ao entendermos os mecanismos que levaram a extinção do megalodon no passado, isso poderá nos fornecer pistas cruciais sobre os fatores naturais que interagem com as ameaças humanas para impulsionar a perda de tubarões atuais! Então cabe a pergunta: o que seria capaz de extinguir o maior predador de todos os tempos? Essa foi feita por Catalina Pimiento e seus colaboradores e aqui estão seus achados. É importante lembrar que essa espécie é fóssil e os tubarões são condrictes, isto significa que os esqueletos são de cartilagem, o que é de difícil preservação. Por isso, as principais evidências que temos desses animais são seus dentes, que são mineralizados e resistentes!
Já foram criadas quatro hipóteses sobre como os megalodon foram extintos: 1. A queda na diversidade de baleias filtradoras e focas; 2. Competição com baleias predadoras de grande porte, como as baleias assassinas; 3. Mudanças climáticas (resfriamento da Terra a partir do Mioceno tardio); 4. Mudanças na distribuição de mamíferos marinhos (presas) para latitudes mais elevadas. Partindo disso, Pimiento e seus colaboradores decidiram fazer uma metanálise dos registros de ocorrência e abundância de Carcharocles megalodon no mundo todo, cruzando com dados climáticos, por exemplo da temperatura global, de cada momento pré-histórico em que esses megatubarões existiram.
A partir desse cruzamento de dados foi encontrado que o megalodon surgiu no início do Mioceno, o declínio populacional começou no Mioceno tardio e a espécie foi extinta durante o Plioceno. Também encontram que não há evidências de correlação direta entre mudança climáticas (ex.: temperatura global) e a queda populacional. Dessa forma, os pesquisadores concluem que fatores bióticos, relacionado com seres vivos, foram os responsáveis pela extinção do maior predador de topo que já existiu. Esses fatores seriam: a queda brusca de diversidade de cetáceos (baleias e golfinhos) que eram presas do megalodon, ou seja, esses animais tiveram menos recurso alimentar disponível; e o surgimento de grupos competidores de recursos, como grandes baleias predadoras e tubarões brancos, durante o Mioceno tardio e Plioceno. Pimiento e colaboradores também relatam que após da extinção dos megalodon, houve um aumento da diversidade de cetáceos mostrando um relação de presa predador bem interessante. Portanto, a partir desses achados, será possível fazer novas inferências sobre formas mais eficientes de preservar nossos predadores de topo atuais!
Artigo fonte: PIMIENTO, Catalina et al. (2016). Geografical distribuition patterns of Carcharocles megalodon over time reveal clues about extinction mechanisms. Journal of Biogeography, v. 43, n. 8, p. 1645-1655. Doi: 10.1111/jbi.12754. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/jbi.12754. Acessado em 09/09/2022.
Fonte e legenda da imagem de capa: Megalodon predando duas baleias Eobalaenoptera, todos já extintos. Imagem ilustrativa. Extraída do site commons.wikimedia.org. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:VMNH_megalodon.jpg. Acessado em 09/09/2022.