Primeiro fóssil de macaco da América do Norte: O intercâmbio das espécies entre as Américas

Em 20 de março de 2020

Por: Gabriella Parreiras Torres

Os Platyrrhini são um grupo de primatas que possuem as narinas distantes entre si e voltadas para o lado, diferentemente dos Catarrhini que possuem as narinas voltadas para baixo. O clado Platyrrhini inclui os macacos do novo mundo, ou seja, do continente americano, sendo desconhecida a história evolutiva destes animais nos trópicos. Os macacos chegaram até a América do Norte há aproximadamente 4 milhões de anos, vindos da América do Sul através de uma estreita faixa de terra que liga os dois continentes. Para a melhor compreensão das informações que seguirão, é importante entender que a América Central pode ser considerada parte da América do Norte, como será tratado nesse texto.

Em 2016, cientistas apresentaram a primeira descrição de um fóssil de macaco do novo mundo recuperado na América do Norte, em Las Cascadas na bacia do canal do Panamá. Dessa forma, este fóssil é a mais antiga evidência da migração de mamíferos entre a América do Sul e a América do Norte.

A descoberta de primatas do Mioceno (entre 23 e 5 milhões de anos atrás) no Panamá, junto a ausência de barreiras oceânicas que restringiriam os seus movimentos rumo ao norte, deixa a dúvida: Por que estes animais não chegaram a mais altas latitudes, ou seja, mais ao norte?

Para explicar esse questionamento, é necessário um complexo conjunto de fatores ecológicos, como a extensão limitada de habitat de florestas tropicais, ou a existência de maiores barreiras geográficas. Ainda, segundo os autores é muito difícil encontrar fósseis em planícies tropicais na América Central, sendo o canal do panamá uma exceção, auxiliada pelo aumento da exposição deste canal, que evidenciou rochas do Mioceno.

Os pesquisadores descobriram fósseis de dentição de macacos do novo mundo do gênero Panamacebus (extinto), e elucidaram questões sobre o tempo e a dinâmica dos estágios iniciais do grande intercâmbio biótico americano entre a América do Sul e do Norte. A dentição encontrada aponta para os Platyrrhini da família Cebidae que pesavam aproximadamente 2,7 kg e se diferenciavam dos demais Cebidae por ter incisivos inferiores com características singulares e primeiros molares superiores consideravelmente maiores que os segundos molares superiores.

Estudos sugerem que as migrações dos animais do velho mundo até a América do Sul podem ter ocorrido da África e Ásia através da Antártida, porém navegar em ilhas flutuantes é considerado o mecanismo mais provável para a chegada na América do Sul. Ainda, evidências evolutivas apontam que o gênero Panamacebus está dentro de Platyrrhini, especificamente dentro de Cebidae, sugerindo a dispersão para o norte pela América Central por via marítima.

Anteriormente, já haviam evidências fósseis da migração de mamíferos da América do Sul para a do Norte, da família Mylodontidae e Megalonychidae (preguiças). Mas enquanto elas se dispersaram para altas latitudes, os macacos do novo mundo atravessaram a América Central, mas não chegaram a altas latitudes na América do Norte.

Artigo fonte: Bloch, J., Woodruff, E., Wood, A. et al. (2016). First North American fossil monkey and early Miocene tropical biotic interchange. Nature, v. 533, p. 243–246. doi:10.1038/nature17415 <Clique aqui para acessar o artigo fonte>

Fonte da imagem: Recortada da Figura 4 do artigo fonte.

Publicado por Alexandre Liparini

Mineiro, gaúcho, sergipano, e por que não, alemão? No caminho sempre a paleontologia como paixão e agora como profissão. Adora dar aulas e pesquisar sobre origens e evolução. Se esse for o tema, podem perguntar, por que não?

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