16 de novembro de 2021
Por: Letícia Mansur Rosa
Os fósseis são achados paleontológicos que contam a história da fauna e da flora de determinada região. No mundo, cada país possui uma legislação própria em relação aos fósseis encontrados em seu território e, devido a tais divergências, essas descobertas paleontológicas são constantemente visadas pelo tráfico. Nos últimos anos, o tráfico de fósseis tem sido uma área de negócio muito rentável. Neste contexto, mercados internacionais ilegais atraem compradores e determinam valores exorbitantes para os exemplares. O preço e o interesse na compra de peças fósseis aumentam de acordo com a raridade e seu estado de preservação. Assim, a venda se torna muita atrativa e alguns indivíduos aproveitam desse fato para comercializarem materiais fósseis fraudados.
Dessa maneira, para garantir a autenticidade de achados fósseis que são devolvidos às instituições de pesquisa e museus, os autores do artigo realizaram tomografias computadorizadas nas peças. O principal material em análise foi um esqueleto de dinossauro do gênero Psittacosaurus do Cretáceo da China, proveniente da coleção do Museu Natural da Holanda, suspeito de se tratar de uma fraude. O fóssil estava em ótimo estado de conservação, com o crânio quase completo e preenchido de sedimentos. Com base no pressuposto da provável existência de componentes ósseos fossilizados no interior da massa sedimentar que preenchia o crânio do animal, o exemplar foi submetido a uma análise por tomografia computadorizada.
O exame de tomografia computadorizada produz imagens com alto nível de detalhes via radiação. Essas imagens geradas no computador pelos raios X podem focalizar especificamente no tecido ósseo. Após a tomografia, o crânio do dinossauro passou por uma análise do conteúdo intracraniano. Como resultado, o crânio de Psittacosaurus mostrou absorção não esperada aos raios X, os ossos deveriam ser facilmente visíveis nas imagens, dentro e ao redor do sedimento. Em vez disso, o material no interior do crânio era menos denso que um osso e relativamente homogêneo, sendo compatível com a densidade de terra não consolidada e cera. Portanto, os autores concluíram que o fóssil analisado tratava-se de uma fraude, com elementos não originais incorporados a ele.
A capacidade da tomografia computadoriza de diferenciar as densidades de absorção dos raios X pelos materiais permitiu que espécimes fósseis fossem analisados quanto a sua constituição. Assim, os autores do artigo demonstraram que esse tipo de exame aplicado aos fósseis pode ser uma técnica excelente para identificação de possíveis fraudes fósseis.
Artigo fonte: Rita, F.; Mateus, O. & Overbeeke, M. (2008). Tomografia Computorizada na Detecção de Fraudes em Fósseis. Acta Radiológica Portuguesa, 20 (80):83-84. <Clique aqui para acessar o artigo fonte>
Fonte e legenda da imagem de capa: (A) Crânio em vista superior e (B) Tomografia computadorizada do crânio. Imagens extraídas e modificadas do artigo fonte.