As marés como força na evolução de peixes ósseos e tetrápodes

31 de outubro de 2020

Por: Maria Eugênia Reis

Uma pesquisa recente feita por pesquisadores da Universidade de Bangor e Universidade de Cambridge no Reino Unido, e da Universidade de Uppsala na Suécia, buscou elucidar a importância das marés como fator ambiental no processo evolutivo de peixes ósseos, e de seus descendentes tetrápodes: vertebrados terrestres, possuidores de quatro membros. Como ressaltado no artigo, as marés desempenham um papel importante na formação do contexto ambiental para a evolução dos organismos marinhos e costeiros rasos, ao compor a interação entre esses ambientes. Hipotetiza-se que grandes variações de maré podem ter promovido a evolução dos órgãos “respiradores de ar” em osteíctes para facilitar a respiração em poços de maré pobres em oxigênio, e o desenvolvimento de membros de tetrápodes que sustentam peso para auxiliar a navegação nas zonas entremarés (regiões costeiras). O ambiente criado nesse cenário possibilitaria a seleção dos órgãos respiradores mencionados, bem como apêndices adaptados para navegação terrestre.

No estudo, utilizou-se uma modelagem para o comportamento das marés e reconstruções paleogeográficas do final do Siluriano ao início do Devoniano (420 Ma, 400 Ma e 380 Ma, [Ma = milhões de anos atrás]), para explorar o envolvimento das alterações cíclicas do nível da água do mar nos processos evolutivos. As regiões de interesse englobou o que hoje é o sul da China (420 Ma), onde provavelmente se deu a origem dos peixes ósseos, e a Europa (Laurussia 400 Ma), por seu registro fóssil de tetrápodes encontrados em sedimentos deltaicos ou estuarinos.

Através da investigação conduzida foi possível observar a presença de grande variações de marés no período que engloba o Siluriano Superior ao início Devoniano, justamente nas localidades onde as evidências dos primeiros osteíctes e tetrápodes foram encontradas. Estes resultados são amplamente consistentes com a hipótese de que as marés foram um importante motor ambiental e evolutivo para os eventos de irradiação adaptativa dos peixes ósseos e origem dos tetrápodes. Esta pesquisa pioneira demonstra a importância de simulações paleogeográficas, que unem diversas ferramentas e áreas de estudo, para se entender tanto o passado da vida na Terra quanto as formas de vida que hoje perduram.

Artigo fonte: H. M. Byrne, J. A. M. Green, S. A. Balbus and P. E. Ahlberg. (2020). Tides: A key environmental driver of osteichthyan evolution and the fish-tetrapod transition? Proceedings of the Royal Society A, vol. 476, n. 2242, p. 20200355. Doi: 10.1098/rspa.2020.0355 <Clique aqui para acessar o artigo fonte>

Legenda e fonte da imagem: Reconstrução de um ambiente aquático com um tetrápoda do Devoniano. Imagem extraída do site Burada Biliyorum (link).

Publicado por Alexandre Liparini

Mineiro, gaúcho, sergipano, e por que não, alemão? No caminho sempre a paleontologia como paixão e agora como profissão. Adora dar aulas e pesquisar sobre origens e evolução. Se esse for o tema, podem perguntar, por que não?

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