Coprólitos: a história contada a partir das fezes

17 de setembro de 2020

Por: Karine Moreira Maciel dos Santos

Um estudo paleoparasitológico das comunidades de micromamíferos da Patagônia, Argentina

Um grupo de pesquisadores argentinos encontraram diversas espécies de parasitas em pelotas fecais de micromamíferos com idade de 1.200 anos aproximadamente, no sítio paleontológico “Cueva Peligro”, na Argentina. O estudo publicado na revista Parasitology International, em maio de 2020 chama a atenção pelo número de espécies que foram encontradas, 11 espécies diferentes de parasitos, enquanto em estudos anteriores realizados na América do Sul foram encontrados um número bem menor de espécies.

Micromamíferos são mamíferos de porte muito pequeno como ratos e ouriços-cacheiro, que podem ser roedores ou insetívoros. Esses animais tem grande importância ecológica e por muito tempo as comunidades de micromamíferos na Patagônia permaneceram estáveis. No entanto, nos últimos séculos, mudanças dramáticas foram registradas na composição destas comunidades.

Existem muitos fatores que podem influenciar as dinâmicas populacionais dos micromamíferos, sendo os parasitas um fator muito importante nesta dinâmica. Sendo assim, o objetivo do estudo foi justamente analisar as assembleias de parasitas de micromamíferos da Patagônia e, a partir dessas informações, conhecer a história da relação entre parasitas e micromamíferos do sítio “Cueva Peligro” da Patagônia, nos últimos 1.200 anos.

O sítio paleontológico “Cueva Peligro” está localizado próximo à margem do rio Chubut, na Província de Chubut, Argentina e trata-se de uma caverna de aproximadamente 35 m de altura, com uma única entrada e uma única galeria. Para o estudo, o material coletado no local foi peneirado e as amostras de fezes foram processadas e datadas no Laboratorio de Tritio y Radiocarbono (LATYR), Facultad de Ciencias Naturales y Museo, Universidad Nacional de La Plata (LP), Argentina.

As pelotas fecais foram então analisadas e características como cor, textura, inclusões e medidas foram observadas. Posteriormente, os coprólitos foram reidratados, homogeneizados e deixados para sedimentar. Esse sedimento foi então observado para procura de ovos de parasitos e também para observar variações na dieta.

A partir do estudo microscópico do material, revelou-se uma dieta onívora, porém a composição variou entre as amostras, possivelmente por se tratar de fezes de animais de diferentes espécies. Foram encontrados também ovos característicos de 11 espécies de parasitos, pertencentes a diferentes grupos como helmintos, nematódeos dentre outros.

A análise das amostras sugeriu uma dieta onívora à insetívora, associando esta informação às análises morfológicas dos coprólitos e ao estudo das espécies de micromamíferos que vivem no local atualmente foi possível presumir que as pelotas pertencem a quatro espécies da família Cricetidae, subfamília Sigmodontinae. As espécies desta subfamília são pequenos mamíferos roedores.

Foram encontradas 11 espécies diferentes de parasitos, sendo que alguns deles completam todo seu ciclo de vida em um único hospedeiro, são chamados monoxênicos. Já outras espécies encontradas são de parasitos heteroxênicos, ou seja, que completam seu ciclo de vida em mais de um hospedeiro. O estudo descreveu ainda parasitos com possível caráter zoonótico, ou seja, que podem ser transmitidos dos animais para os seres humanos. Algumas espécies encontradas nesse estudo ainda não tinham sido descritas em amostras holocênicas da Patagônia.

O estudo fez descobertas importantes sobre a relação micromamíferos-parasitos em “Cueva Peligro”, porém mais estudos são ainda necessários para conhecer a história da relação parasito-hospedeiro e a epidemiologia das doenças parasitárias na região.

Artigo fonte: Tietze, E.; Tommaso, D. & Beltrame, M.O.(2020) Parasites in micromammal fecal pellets throughout the Late Holocene (“Cueva Peligro” paleontological site, Patagonia, Argentina). Parasitology International, v.78, e. 102147. DOI: 10.1016/j.parint.2020.102147. <Clique aqui para acessar o artigo fonte>

Legenda e fonte da imagem: Acima: B. Entrada da Caverna. C. Locais de escavação. D. Coprólitos de Micromamífero. Abaixo: Alguns parasitas encontrados em “Cueva Peligro”. A. Syphacia sp. B. Heteroxynema sp. C. Gongylonema sp. D. Trichuris sp. (Figuras extraídas e adaptadas do artigo fonte.)

Publicado por Alexandre Liparini

Mineiro, gaúcho, sergipano, e por que não, alemão? No caminho sempre a paleontologia como paixão e agora como profissão. Adora dar aulas e pesquisar sobre origens e evolução. Se esse for o tema, podem perguntar, por que não?

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