24 de junho de 2022
Por: Israel Munck
*Texto publicado também no espaço biótico <confira aqui>
Triceratops eram dinossauros “não-avianos” do final do Cretáceo, que se distinguiam pela presença de um grande folho — uma hiperexpansão de ossos, formando um longo escudo na testa destes animais. Além disso, também possuem dois chifres acima dos olhos e outro na ponta do nariz. A provável função inicial do folho, era de exibição visual e de reconhecimento de espécies. Com a evolução, esses elementos passaram a ter função de proteção e utilização em combates durante disputas entre indivíduos da mesma espécie.
Big John é o nome dado a um exemplar fóssil de um espécime de Triceratops horridu. Nele é possível encontrar uma fenestra que perfura completamente o osso na parte direita do folho. Fenestras semelhantes tem sido encontradas em diversos Triceratops relacionados. Com isso, duas hipóteses têm sido levantadas para explicar a presença desse “buraco”. A primeira hipótese, propõe que a fenestra está relacionada com a ocorrência de traumas, ou seja, lesões que podem ter sido causadas por predadores, ou mesmo por disputas entre esses animais. A segunda, prevê que a fenestra é o resultado de reabsorção ou remoção de uma parte que não seria utilizada pelo animal, ou um sinal de envelhecimento.
Foram realizadas análises de fragmentos retirados da fenestra através de microscópios e observações para realização de um diagnóstico . O formato da fenestra é de um buraco de fechadura, onde na parte interior foi encontrado osso reativo, característico de inflamação. Foram observadas também estruturas de reabsorção óssea e alta vascularização. Na região próxima à lesão foi encontrada abundância de enxofre, diferente do resto do folho, que é característica de um tecido ósseo que está em processo de mineralização.
Como resultado dessas análises, é possível deduzir que a fenestra era constituída de tecido ativo remodelador, que indica uma origem traumática, e na morte de Big John este tecido estaria em cicatrização. A lesão foi possivelmente causada por outro Triceratops, o formato de fechadura indica que o golpe que feriu Big John tenha sido infligido por trás, sendo penetrado no folho e deslizando em direção ao rosto.
Big John aparentemente sobreviveu após o embate por algum tempo, comparando o tempo de cicatrização de répteis modernos, tendo em consciência o tamanho do ferimento e o estado de cicatrização, é possível inferir que Big John sobreviveu ao menos 6 meses após seu confronto.
Com isso, analisando as informações do artigo é possível concluir que, Triceratops realmente não tinham uma vida fácil durante o final do Cretáceo, uma vez que além de interagir com grandes predadores como o Tyrannosaurus, esses animais ainda tinham que lidar com embates violentos, com espécimes semelhantes.
Artigo fonte: D’ANASTASIO, Ruggero; CILLI, Jacopo; BACCHIA, Flavio; FANTI, Federico; GOBBO, Giacomo; CAPASSO, Luigi. (2022). Histological and chemical diagnosis of a combat lesion in Triceratops. Scientific Reports, v. 12, n. 3941. http://dx.doi.org/10.1038/s41598-022-08033-2. <Clique aqui para acessar o artigo fonte>
Fonte e legenda da imagem de capa: Triceratops horridus (esquerda), Torosaurus latus (direita). Autoria de Nobu Tamura, extraída do site fr.vikidia.org <link>.