22 de novembro de 2021
Por: Nicolas Arthur Assis Leal
O esqueleto quase completo de um primata foi descoberto em um depósito de fósseis referente ao Pleistoceno no estado da Bahia, Brasil. O fóssil se assemelha muito a macacos-aranhas atuais, possuindo semelhanças craniais com estes primatas. Além disso, ele indica que os macacos do novo mundo poderiam ter quase o dobro do tamanho dos atuais e pertenciam à fauna de mamíferos da América Latina no Pleistoceno, período que compreende entre 2,5 milhões e 11,7 mil anos atrás.
Este fóssil foi encontrado em 1992, em uma caverna brasileira chamada Toca da Boa Vista, a maior caverna brasileira, localizada em Campo Formoso, BA. A caverna é bastante extensa, possuindo várias galerias, e o fóssil em questão foi encontrado em uma câmara distante, a algumas centenas de metros da entrada principal. Junto a ele haviam outros fósseis de platirrinos (um clado de macacos do novo mundo), evidenciando uma pequena amostra de algumas espécies extintas do Pleistoceno.
Quanto ao esqueleto do primata de interesse deste artigo, essa espécie recebeu o nome de Caipora bambuiorum, este nome foi escolhido devido à Caipora, uma criatura mitológica do folclore brasileiro que já fora uma vez mencionada por Peter Lund, pai da paleontologia, ao se referir a um macaco gigante que era conhecido pelos índios nativos como Caipora, que significa “morador da floresta”. A palavra bambuiorium faz referência ao Grupo Bambuí de Pesquisas Espeleológicas de Belo Horizonte, que foi responsável pela descoberta. O esqueleto do neurocrânio deste animal é largo e globoso, além de possuir uma maior largura nos ossos parietais, o que acaba conferindo um contorno de crânio mais arredondado. Em uma comparação das dimensões cranianas de Caipora bambuiorum com outros crânios de primatas do novo mundo, foi possível perceber que essa espécie possui uma cabeça mais esférica. Estas características dos ossos neurocranianos e suas dimensões são típicas de macacos do novo mundo.
Nos dentes, o fóssil apresenta dentição bunodonte, apresentando os pré-molares e molares muito parecidos a de macacos-aranha do gênero Ateles. Esse tipo de dentição encontrada nesta espécie foi a semelhança mais marcante aos primatas da Família Atelidae, a qual estão inclusos os macacos-aranha.
Quanto ao resto do esqueleto, referente ao corpo do primata, os pesquisadores perceberam que não estava totalmente desenvolvido, sendo então Caipora bambuiorum um indivíduo mais jovem, mas mesmo assim já possuía ossos robustos, outra característica dos macacos do novo mundo. As proporções e articulações dos ossos mostraram adaptações de uma postura suspensiva e locomoção de braquiação, que é também encontrada em macacos-aranha. O fóssil possui membros superiores longos, comprimento dos dedos dos pés e mãos parecidos e vértebras caudais robustas, características encontradas em macacos do novo mundo que possuem locomoção de braquiação. Por fim, para descobrir o peso deste indivíduo, foi utilizada uma fórmula de cálculo de massa corporal em primatas, chegando no resultado de que este primata pesava em torno de 20,5 kg, um peso que é 75% maior do que os maiores Atelines vivos, segundo o artigo.
Com isso, devido a suas características, proporções e dimensões ósseas do crânio e do corpo, Caipora bambuiorum é um fóssil que está fortemente relacionado aos macacos do novo mundo do gênero Ateles. Sua proximidade em tamanho corporal e, provavelmente, filogenia com macacos-aranha evidenciam uma nova informação sobre a diversidade adaptativa de macacos neotropicais, além de demonstrar que platirrinos compunham parte da fauna de mamíferos do final da época Pleistoceno na América Latina.
Artigo fonte: Cartelle, C.; Hartwig, W.C. (1996). A new extinct primate among the Pleitoscene megafauna of Bahia, Brazil. Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 93, n. 13, p. 6405-6409. DOI: 10.1073/pnas.93.13.6405 <Clique aqui para acessar o artigo fonte>
Fonte e legenda da imagem de capa: Crânio e ossos do corpo de Caipora bambuiorum. Imagem extraída e modificada do artigo fonte.