03 de julho de 2022
Por: Vicente Sousa
Parece o nome de um monstro assustador, mas se trata de um vampiromorfo, um “parente” dos polvos e lulas, essa Ordem de animais tem uma característica bem marcante: oito membros unidos por uma membrana, trazendo um aspecto bem exótico a esses habitantes das profundezas.
Geralmente, quando observamos um fóssil em um museu, vemos ossos ou conchas, que são materiais resistentes e por consequência, têm uma chance maior de se preservar, porém, no sudoeste da França, existe um sítio fossilífero muito famoso por seus fósseis tão bem preservados que até mesmo partes moles dos animais podem ser identificadas. Sítios fossilíferos desse tipo, chamamos pelo termo em alemão “Lagerstätte”, isso acontece nessa região pois o ambiente onde ocorreu a fossilização é pobre em oxigênio, possibilitando a ocorrência de microrganismos que contribuem para a mineralização de tecidos moles. Isso nos permite ver como eram esses tecidos, que normalmente não são encontrados preservados.
Um artigo publicado pela revista Scientific Reports, do grupo Nature, em 23 de junho de 2022, nos apresentou a três exemplares dessa Lagerstätte de uma espécie jurássica conhecida como Vampyronassa rhodanica. Sua boa preservação permitiu aos pesquisadores identificar diversas características anatômicas, que além de permitir a elaboração de hipóteses sobre como viviam esses animais, possibilitou interir um alto grau de parentesco com um animal atual, a lula-vampira-do-inferno, cientificamente chamada de Vampyroteuthis infernalis.
As diversas características encontradas em V. rhodanica são importantes para se entender onde estes animais se encaixam na árvore da vida, como por exemplo a simetria radial das ventosas, que era uma característica previamente conhecida de V. infernalis. Além disso, constatou-se que ambas as espécies não possuem revestimento nas ventosas. Essas e outras semelhanças aproximam esses dois animais no ponto de vista de seu parentesco. Infelizmente, muitas características importantes para a classificação desses animais estão relacionadas ao gládio, uma estrutura interna que não pode ser analisada nesse estudo.
A presença de um corpo alongado e musculoso sugere que V. rhodanica era um animal que possuía um comportamento mais predador em relação à V. infernalis, que não possui um bom poder de sucção nas ventosas, nem uma musculatura tão forte. Não foram encontrados sacos de tinta nos espécimes de V. rhodanica, porém, outros vampiromorfos fósseis possuem essa característica. Essas diferentes adaptações possivelmente significam que os diferentes animais ocupavam diferentes nichos ecológicos.
O estudo, apesar de carecer de informações sobre o gládio, possui diversas informações sobre tecidos moles, que ficaram bem preservados graças às condições do local de fossilização e trouxeram novas informações que permitirão que cientistas tenham novas perspectivas sobre a paleoecologia e a história evolutiva desses cefalópodes do Jurássico.
Artigo fonte: owe, A.J., Kruta, I., Landman, N.H. et al. (2022). Exceptional soft-tissue preservation of Jurassic Vampyronassa rhodanica provides new insights on the evolution and palaeoecology of vampyroteuthids. Scientific Reports 12, 8292.Doi: 10.1038/s41598-022-12269-3. Disponível em: https://www.nature.com/articles/s41598-022-12269-3. Acessado em: 26/01/2023.
Fonte e legenda da imagem de capa: Vemos aqui uma reconstrução de como, possivelmente, eram os Vampyronassa rhodanica. Extraída do artigo fonte.