OS ANÉIS BRILHANTES DA TERRA

Escrito em: 30 de junho de 2025

Por: Damiane Mello Andrade

Há mais de 450 milhões de anos, durante o Período Ordoviciano, nosso planeta pode ter sido circulado por belíssimos anéis cintilantes. Essa hipótese surpreendente foi levantada por um estudo publicado em Novembro de 2024, pela revista  Earth and Planetary Science Letters intitulado ”Evidence suggesting that earth had a ring in the Ordovician” de Andrew G. Tomkins, Erin L. Martin e Peter A. Cawood. Os pesquisadores analisaram 21 crateras de impacto de meteorito distribuídas pelo globo, todas formadas em um intervalo de 40 milhões de anos, conhecido como Pico de Impacto do Ordoviciano. O que torna essas crateras especiais é sua localização: todas estão situadas muito próximas da linha do Equador — o que é curioso. Por que tantas crateras de um determinado momento da história da Terra estão localizadas na linha do equador? Existe alguma explicação para o por que os meteoros não se dispersaram para outros lugares?

Os pesquisadores propõem uma explicação fascinante para essa concentração estranha: um asteroide gigantesco com aproximadamente 12 quilômetros de diâmetro, teria se aproximado demais da Terra e sido despedaçado pelas forças de maré ao cruzar o Limite de Roche — ponto onde a gravidade de um planeta (Terra) consegue romper um corpo celeste (meteoro) e despedaçá-lo de dentro para fora. Os destroços resultantes desse rompimento teriam se organizado em um anel de detritos ao redor do planeta, concentrado na região equatorial devido ao efeito centrífugo, resultado do movimento de rotação — movimento de giro que a Terra faz ao redor de seu próprio eixo — que com o tempo foi enfileirando os pedaços do meteoro como um enorme bambolê.

Ao longo de milhões de anos, esses pedaços começaram a colidir entre si, formando blocos cada vez maiores. Foram surgindo “pequenas luas” que por serem mais massivas saiam de órbita. Atraídas pela gravidade caíam em direção à superfície do planeta, criando o padrão de crateras encontrado no equador! Ou seja, aquelas crateras na verdade são rastros do anel! Hoje estas marcas são encontradas em locais como América do Norte, Europa, Rússia, China, África, América do Sul e Austrália — continentes que, no Ordoviciano momento da queda dos meteoros) — estavam posicionados próximos ao Equador e hoje estão deslocados devido ao movimento dos continentes.

Distribuição das crateras de impacto do período Ordoviciano sobre a reconstrução paleogeográfica

A pesquisa ainda sugere que o sistema de anéis pode ter influenciado inclusive o clima do planeta! Os anéis provavelmente criaram um ambiente muito diferente do que é a Terra nos dias de hoje: eles poderiam diminuir a quantidade de luz solar que chegava no planeta, deixando ele mais frio do que o normal. Imagine só como seria um inverno sob a sombra dos anéis impedindo a chegada da luz solar? Além do resfriamento, as “pequenas luas” que caíam na Terra teriam levantado grandes nuvens de poeira na atmosfera, dificultando a chegada da luz solar e aumentando ainda mais o efeito de resfriamento. O resultado seria um “inverno prolongado e nebuloso”, com temperaturas globais caindo drasticamente o que teria grandes impactos sobre a vida da época. 

Vale lembrar que sistemas de anéis não são exclusividade dos gigantes gasosos. Saturno, com seus deslumbrantes anéis de gelo, é o exemplo mais famoso, mas Júpiter, Urano e Netuno também possuem seus próprios anéis. Evidências recentes sugerem até que Marte pode ter tido anéis no passado!!!

Referência: Tomkins, A. G., Martin, E. L., & Cawood, P. A. (2024). Evidence suggesting that Earth had a ring in the Ordovician. Earth and Planetary Science Letters, 646, 118991.

Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0012821X24004230.

Texto revisado por: Alexandre Liparini.

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