Já existiram ornitorrincos na América do Sul? Descubra as origens dos monotremados!*

26 de setembro de 2022

Por: Milena Guimarães Ferreira

*Texto publicado também no espaço biótico <confira aqui>

O ornitorrinco (Ornithorhynchus anatinus) e as equidnas (gêneros Zaglossus e Tachyglossus) formam a ordem Monotremata, o único grupo de mamíferos viventes capazes de botar ovos. Esses animais, bem como seus parentes já extintos, estão restritos à Oceania, exceto pela espécie Monotrematum sudamericanum, que viveu na região da Patagônia Argentina, durante o Paleoceno.

A hipótese mais antiga a respeito da origem e diversificação dos monotremados sugere que estes são remanescentes de uma ampla radiação que começou durante o período Jurássico, havendo estudos que apoiam e que divergem de tal teoria. A descoberta de uma rica fauna de monotremados australianos do Cretáceo suporta a hipótese de uma linhagem diversa e especiosa, marcada por grandes tendências adaptativas acerca do tamanho corporal e morfologia mandibular. Por outro lado, algumas análises moleculares sugerem que ocorreu uma diferenciação entre mamíferos monotremados e eutérios (ou seja, aqueles que não botam ovos) por volta de 217,7 milhões de anos atrás, indicando que essa divergência se deu, na verdade, durante o Triássico, muito antes do que se imaginava.

Sabe-se, porém, que durante o Paleoceno, ornitorrincos basais se dispersaram para o sul da América do Sul através da Antártica, e posteriormente sofreram especiação onde hoje é a Austrália. Já o registro fóssil das equidnas sugere uma possível origem na Melanésia – região que inclui a Nova Guiné, Fiji e Nova Caledônia, entre outras ilhas -, durante o Plioceno ou início do Pleistoceno, com posterior dispersão para a Austrália.

A partir destes e de outros estudos, foi estabelecida uma nova família, chamada Teinolophidae, para o monotremado mais antigo conhecido, o Teinolophos trusleri, que viveu durante o Cretáceo Inferior e possuía uma massa corporal estimada em apenas 40 g. Assim como o ornitorrinco, T. trusleri provavelmente possuía um bico eletrossensível ou mecanossensível, utilizado para se alimentar de insetos nas florestas polares onde vivia. Além disso, Murrayglossus é reconhecido como um novo gênero de equidnas gigantes, que viveram no sudoeste da Austrália durante o Pleistoceno.

Esse grupo tão diferente de mamíferos gera bastante curiosidade e é permeado de diversos questionamentos, não apenas sobre sua linha evolutiva mas também sobre seus comportamentos, hábitos e particularidades, porém, é importante ressaltar a necessidade de se preservar suas espécies remanescentes, que estão em declínio devido à degradação de seu habitat pela ação humana.

Texto fonte: FLANNERY, T. F.; RICH, T. H.; VICKERS-RICH, P.; ZIEGLER, T.; VEATCH, E. G.; HELGEN, K. M. (2022) A review of monotreme (Monotremata) evolution, Alcheringa: An Australasian Journal of Palaeontology, 46:1, 3-20, DOI: 10.1080/03115518.2022.2025900. Disponível em: <https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/03115518.2022.2025900>, acessado em: 08/05/2023

Fonte e legenda da imagem de capa: Reconstituição do extinto Monotrematum sudamericanum. Autoria de Apokryltaros. Extraída de commons.wikimedia.org. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Monotrematum_sudamericanum.jpg . Acessada em: 08/05/2023.

Publicado por Alexandre Liparini

Mineiro, gaúcho, sergipano, e por que não, alemão? No caminho sempre a paleontologia como paixão e agora como profissão. Adora dar aulas e pesquisar sobre origens e evolução. Se esse for o tema, podem perguntar, por que não?

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