09 de maio de 2022
Por: Vitória Gomes Macêdo
O registro fóssil é dominado por tecidos biomineralizados, resistentes, por exemplo, conchas e ossos que são compostos por carbonato de cálcio e outros elementos. Por outro aldo, os tecidos moles são decompostos rapidamente e são raras as vezes que se preservam. Porém, a fossilização desses tecidos é possível, e uma vez preservados, são ricos em informações fundamentais e raras que tem impacto nas análises biológicas de organismos extintos há muito tempo.
Para a preservação do tecido mole, a inibição completa ou parcial dos processos de decomposição precisa acontecer. Essa inibição pode ser causada por fatores ambientais ou pela atividade de microrganismos específicos. Deve ainda acontecer de maneira rápida, após os vestígios serem enterrados. Essa preservação é frequentemente ligada a uma mineralização precoce dos tecidos, induzida por bactérias. Passando, portanto, por essas condições favoráveis de preservação, tais registros trazem depósitos com altas quantidades e qualidade de informações paleontológicas, como exemplo, os coprólitos.
Nesses coprólitos são encontrados restos importantes, como penas, pelos e bactérias. Os pelos e penas são relativamente resistentes, pois são compostos de queratina, proteína fibrosa e estruturalmente robusta, e algumas análises filogenéticas revelaram que a queratina já estava presente nos primeiros tetrápodes. Hoje, existem poucos casos de preservação de pelos conhecidos no registro fóssil, mas um exemplo é um provável cabelo humano, recuperado de coprólitos produzidos por hienas, encontrado na África do Sul — ele foi substituído por carbonato de cálcio durante a fossilização, e não há vestígio de queratina ou aminoácido, de sua composição original.
Por fim, depois de estudos e a verificação de outros produtos fossilizados no coprólito, chegaram à conclusão de que as hienas viviam próximas com hominídeos, javalis, zebras, e outros animais no Vale Sterkfontein na África do Sul, durante o Pleistoceno médio. A descoberta mais antiga de cabelo fossilizado, até agora, em conjunto com um corpo articulado, é um mamífero eutério do Cretáceo inferior, com aproximadamente 125 Ma.
Infelizmente, a maioria das fezes produzidas nunca entraram no registro fóssil, pois não é preservada por muito tempo após sua produção. O excremento não enterrado inicia um rápido processo de desintegração e decomposição, sendo dependente de fatores bióticos e abióticos.
Os estudos sobre os coprólitos tiveram grandes avanços, no lugar de serem apenas vistos como um derivado do registro fóssil de certos organismos, uma nova abordagem de estudos usa os coprólitos para desvendar ecossistemas antigos, como um todo. A atenção na preservação de tecidos moles nos coprólitos é necessária, pois constantemente preservam tecidos moles fossilizados de invertebrados e vertebrados.
Os coprólitos são importantes para examinar de forma minuciosa as interações ecológicas que de outra forma seria impossível de estudar, além de preservar estruturas biológicas que raramente ou nunca são preservadas em outros lugares. Teias alimentares, aspectos de ecossistemas inteiros, são desvendados através das excretas fósseis.
Artigo fonte: Qvarnström, M.; Niediedźwiedzki, G.; Žigaitė, Ž. (2016). Vertebrate coprolites (fossil faeces): An underexplored Konservat-Lagerstätte. Earth-Science Reviews, v. 162, p. 44–57. DOI: 10.1016/j.earscirev.2016.08.014 <Clique aqui para acessar o artigo fonte>
Fonte e legenda da imagem de capa: Imagem de fezes fossilizadas, coprólito. Figura extraída do artigo fonte.