02 de dezembro de 2021
Por: Victor Lopes Chamone Jorge
E o sumiço do Ubirajara, hein?
Não sabe quem é o Ubirajara? Vem entender essa história!
Ubirajara, ou melhor, Ubirajara jubatus é um dinossauro genuinamente brasileiro e com características únicas! Acredita-se que o “Bira” vivia no interior do Ceará, na região da Bacia do Araripe, há cerca de 110 milhões de anos atrás. Já pensou que interessante seria visitar um museu no Brasil e visitar um dinossauro 100% brasileiro? Contudo, isso infelizmente não é possível. Ubirajara não está aqui no Brasil para que os cientistas contem a sua história, sua casa é o Museu de História Natural de Karlsruhe, na Alemanha. Como ele foi parar lá? Aí é onde mora o problema…
Toda confusão começou em dezembro de 2020, quando a espécie foi descrita na revista Cretaceous Research. Na ocasião, muitos paleontólogos brasileiros questionaram o fóssil estar em mãos alemãs, devido a vários imbróglios relacionados com a legislação e trâmite dos fósseis brasileiros no exterior. Seria um caso de tráfico de fósseis?
O paleontólogo responsável pelo artigo original que descreveu Ubirajara afirmou que o fóssil havia sido levado para a Alemanha de forma legal em 1995, mas isso não é tão simples assim. O brasileiro responsável por “assinar a papelada” já foi condenado por falsificar documentos no tráfico de esmeraldas. Conversas entre representantes brasileiros e o museu alemão começaram a ser feitas para uma possível devolução do fóssil, mas estas não caminharam bem. Devido a toda repercussão negativa, o artigo original foi retirado da revista e não está mais disponível.
A confusão serve como um alerta para os amantes da paleontologia, ainda mais depois de alguns apontamentos feitos pela comunidade científica brasileira. Acredita-se que grande parte dos artigos publicados nos grandes centros de pesquisa, que possuem maior financiamento, são referentes à registros fósseis de países fora deste eixo econômico. Situação essa que, além de preocupante do ponto de vista do desenvolvimento da ciência nacional, demonstra o quão invasivo pode ser o tráfico de fósseis dentro de uma perspectiva global.
Embora a situação do Ubirajara seja extremamente delicada, o contexto faz emergir uma discussão ainda maior: a desigualdade econômico-científica. Como alguns países publicam registros de outros países? Para além da paleontologia, é possível que um país se desenvolva cientificamente a partir de recursos de outro? No caso do dinossauro brasileiro, chegou-se até discutir a capacidade dos museus e cientistas brasileiros em cuidar de um fóssil tão especial.
Nas redes sociais é muito fácil você entender mais sobre o assunto, principalmente acompanhando a paleontóloga Aline Ghilardi, professora da UFRN, que encabeçou o movimento para maiores esclarecimentos e retorno do Ubirajara ao Brasil.
Artigo fonte: Cisneros, J.C., Ghilardi, A.M., Raja, N.B., Stewens, P.P. (2022). The moral and legal imperative to return illegally exported fossils. Nature Ecology & Evolution, v. 6, p. 2-3. Doi: 10.1038/s41559-021-01588-9 <Clique aqui para acessar o artigo fonte>
Fonte e legenda da imagem de capa: Representação artística do dinossauro Ubirajara jubatus. Autoria de Masato Hattori, extraída do site atlasvirtual.com.br <link>.