23 de novembro de 2021
Por: Taciane Fernanda Valadares Reis
Sabe-se que a preservação de parasitas em materiais fósseis é rara, principalmente, durante a Era Mesozoica. Os registros paleontológicos de microrganismos já descritos resumem-se em ovos de helmintos e estágios desenvolvimentais de protozoários, encontrados em coprólitos (fezes conservadas) ou âmbar. Contudo, esses registros tal como sua relação à patologias são capazes de fornecer importantes informações fisiológicas e ecológicas de organismos e comunidades passadas, além de oferecer noções evolutivas da associação de parasitas e hospedeiros ao longo dos anos.
Pela primeira vez, cientistas brasileiros descobriram parasitas fossilizados em tecidos de um hospedeiro vertebrado. Os paleoparasitas foram identificados no osso de um saurópode do Cretáceo Superior. Foi constatado que o dinossauro da família dos titanossaurídeos, encontrado no interior de São Paulo e depositado no Laboratório de Paleoecologia e Paleoicnologia (LPP) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), tinha osteomielite aguda, doença que consiste na inflamação óssea, comum em espécies atuais.
Para melhor estudar as lesões presentes no dinossauro, os cientistas, primeiramente, realizaram uma tomografia computadorizada reconstruindo um modelo tridimensional da amostra da fíbula do animal, que possibilitou a análise interna do osso afetado. Além disso, os pesquisadores resolveram descrever histologicamente o desenvolvimento da osteomielite. Para isso, fizeram cortes de lâminas do periósteo, os quais foram analisados microscopicamente a fim de se obter dados da morfologia e progressão da doença. Nestes, foram observados a presença de bolsas externas e zonas com padrões radiais e reticulares da reação periosteal, além de alta vascularização local. Foi a partir dessa análise que a equipe científica pode identificar os tripanossomatídeos preservados nas regiões vasculares do membro examinado. Acredita-se que a mineralização autigênica tenha possibilitado a extraordinária conservação destes microfósseis.
Não foi possível descobrir se os parasitas encontrados foram os responsáveis pela causa da doença ou se a própria infecção facilitou sua infestação, visto que foi localizada também uma colonização bacteriana na amostra. No entanto, esse estudo contribuiu consideravelmente para a compreensão do histórico evolutivo e ecológico das doenças parasitárias. Ademais, foi um trabalho inovador, uma vez que uniu de forma inédita os campos da histologia, patologia e parasitologia, possibilitando o avanço da paleontologia.
Artigo fonte: Aureliano, T., Nascimento, C. S. I., Fernandes, M. A., Ricardi-Branco, F., & Ghilardi, A. M. (2021). Blood parasites and acute osteomyelitis in a non-avian dinosaur (Sauropoda, Titanosauria) from the Upper Cretaceous Adamantina Formation, Bauru Basin, Southeast Brazil. Cretaceous Research, v. 118, n. 104672. DOI: 10.1016/j.cretres.2020.104672 <Clique aqui para acessar o artigo fonte>
Fonte e legenda da imagem de capa: Parasitas conservados nas regiões vasculares do periósteo indicados pelas setas vermelhas. Imagem extraída do artigo fonte.