20 de março de 2020
Por: Érica Jardim Bonifácio
O globo terrestre, possivelmente possui cerca de 4,5 bilhões de anos. Tal idade nos leva a inferir que o mesmo passou por diversas mudanças, tendo como principal “coautor” as adversidades climáticas. Pesquisadores, com ênfase nos paleontólogos, se dedicam a estudar como essas transformações atingiram vidas naquele dado momento, e para facilitar essa coleta de dados a escala de idade da Terra é dividida entre momentos bem peculiares. Dentre essas faixas se encontra o Cretáceo-Paleógeno (K-Pg) que corresponde há mais ou menos 65,5 milhões de anos, sendo mais reconhecido pela extinção em massa de animais de grande porte, reduzindo drasticamente a diversidade.
Considerando a passagem do K-Pg, estudos foram iniciados em torno de ostracodes — pequenos crustáceos que são considerados indicadores de mudanças ambientais — e que podem trazer respostas para inúmeras perguntas da paleontologia. Um dos sítios paleontológicos mais significativos para o estudo acerca desse assunto é a Pedreira Poty na Bacia Pernambuco-Paraíba , localizada em Recife. Através de estudos estatigráficos (ramo da geologia que estuda as camadas e estratos de uma rocha ou solo), leva a crer em hipóteses que ostracodes do gênero (grupo de seres vivos com características semelhantes) Cytherella da ordem(agrupamento de famílias com semelhanças morfológicas e funcionais) Platycopida eram já encontrados naquele período e podem ser fortes apontadores de como se encontrava o ambiente na Terra naquele momento.
A provável relação entre Cytherella e ao grande desastre ambiental ocorrente no K-Pg, é apontado por esses seres serem encontrados abundantemente em locais com baixa oxigenação ou anoxia (baixa concentração de oxigênio nas águas), a qual seria a condição em que os organismos estariam submetidos, sendo que os mesmos sobreviviam graças à características fisiológicas como valvas que se selam de maneira muito eficazes, impossibilitando trocas com o meio externo, além de manterem o metabolismo em baixa atividade. Com essas conjecturas se explicaria porque os ostracodes Cytherella teriam tido tamanho sucesso. Essas adaptações podem se associar com o fato dos mesmos não serem exímios nadadores, portanto a migração seria inviável, o que não era problema para os demais gêneros.
O universo da pesquisa estabelece uma organização de trabalho para se elaborar uma hipótese, nesse caso em específico o método usado é a coleta de amostras da Pedreira de um determinado estrato, nesse caso, a camada que sinaliza o Cretáceo-Paleógeno. Após análises, os resultados obtidos são de que o gênero Cytherella forma uma enorme parcela dos ostracodes encontrados, no intervalo K-Pg. Além dessa comprovação, temos a presença de Irídio, elemento químico encontrado em asteroides, que também corroboraria para as resoluções paleoambientais daquele espaço de tempo.
É necessário salientar que embora as evidencias apontem para um caminho, nada é conclusivo de fato, pois na Bacia Pernambuco-Paraíba não foram constatados demais sinais de anoxia. Portanto, tais estudos ainda são somente pressupostos e que mesmo encontrado as mesmas pistas em locais como a Bacia Pará-Maranhão, é necessário mais e mais investimentos sobre o tema.
Artigo fonte: Gerson Fauth e Eduardo A. M. Koutsoukos, (2007). Indícios de possível crise ambiental no limite Cretáceo-Paleógeno a partir da ocorrência do gênero Cytherella (Ostracoda) na Pedreira Potty (PE). Paleontologia: Cenários de Vida, v. 2, p. 433 – 440. ISBN 978-85-7193-185-5
Legenda e fonte da imagem: Diferentes espécies de ostracodes do gênero Cytherella encontrados na Pedreira Poty, em Pernambuco. Extraída da Figura 2 do artigo fonte.