Reconhecimento e interpretação de tocas fósseis de peixes pulmonados

Escrito em: 31 de abril de 2024

Por Gabriela Alves Lacerda

De acordo com GUEDES et al(2023), os icnofósseis são vestígios de atividades de animais e vegetais. As tocas são um tipo de icnofóssil que têm sido cada vez mais explorado nos dias atuais , já que essas podem conter informações valiosas a respeito do ambiente em que seus escavadores habitaram.
Os peixes pulmonados são peixes ósseos que surgiram na Era Paleozoica e, alguns deles, possuíam a capacidade de estivação. A estivação pode ser definida como um conjunto de alterações fisiológicas e comportamentais relacionadas com a redução do metabolismo e a permanência em micro-habitats específicos(como as tocas) , durante a fase de estiagem. Esses micro-habitats podem ser preservados no registro geológico e analisados posteriormente. As tocas desses peixes pulmonados podem ser identificadas por sua arquitetura de cilindro simples, orientação vertical a subvertical e pelo interior preenchido por lamas e areias , com paredes que podem apresentar estriações inclinadas e uma casca nítida de sedimentos.


Em alguns casos , é mais fácil identificar uma toca produzida por um peixe pulmonado , já que esses animais podem morrer dentro das tocas, deixando vestígios esqueletais. Entretanto, quando esses vestígios não existem , o reconhecimento dessas tocas torna-se mais complexo, já que existem outros organismos( lagostins e crustáceos) que produzem tocas extremamente semelhantes . Além disso, alterações hidrotermais e atividades de nascentes diageneizadas também podem formar estruturas semelhantes à tocas. Para auxiliar nesses casos, desenvolveu-se uma classificação icnotaxonômica baseada nos padrões das tocas , já mencionados anteriormente , que facilitou a associação entre elas e seus produtores.


Quando identificadas corretamente, as tocas são ótimos indicadores paleoambientes, ou seja, elas podem ser usadas para entender melhor o ambiente em que os animais que as produziam viviam. Em geral, os animais que recorrem a estivação o fazem para sobreviver às estações mais secas; ao se enterrar em tocas esses animais previnem a desidratação e são capazes de sobreviver à predadores durante um período em que se encontrariam mais fragilizados. Ao analisar as tocas fósseis, em conjunto com fácies sedimentares( que são camadas de sedimentos sobrepostos que são analisados geologicamente) , ficou comprovada a relação entre a produção destas tocas e climas que apresentam temperaturas altas e baixa precipitação. Também foram encontradas tocas fósseis sobrepostas em várias camadas de sedimentos, indicando que o período seco se repetia ao longo do tempo.


As tocas também contam a história da evolução dos peixes pulmonados , já que algumas delas foram encontradas associadas a outros fósseis e à sedimentos típicos de regiões de águas salgadas , indicando que algumas espécies já apresentaram tolerância à salinidade. Além disso,alguns peixes pulmonados ainda recorrem à produção de tocas , o que mostra um comportamento que se manteve por milhares de anos. Sendo assim, conclui-se que o estudo desses icnofósseis é essencial para a compreensão paleoambiental, paleoclimática e comportamental das espécies de peixes pulmonados e seu habitat.

Texto fonte: uedes,G.T.;Silva,M.L.;Batezelli,A.;Souza,M.M.(2023).RECONHECENDO TOCAS FÓSSEIS DA ESTIVAÇÃO DE PEIXES PULMONADOS (SARCOPTERYGII, DIPNOI): ICNOTAXONOMIA E PALEOAMBIENTE.Paleodest,v.37,n. p. 120-137 e-ISSN: 1807-2550

Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/372274463_RECONHECENDO_TOCAS_FOSSEIS_DA_ESTIVACAO_DE_PEIXES_PULMONADOS_SARCOPTERYGII_DIPNOI_ICNOTAXONOMIA_E_PALEOAMBIENTE acessado em : 31/04/2024

Fonte e legenda da imagem de capa: Figura 3 do artigo. Comparação entre peixes pulmonados mais antigos e um mais recente, mostrando as adaptações desenvolvidas.


Texto revisado por: Lucélio Batista, Alexandre Liparini.

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