A dieta de salada Nordestina da Megafauna Pleistocênica

Escrito em: 03 de abril de 2024

Por Bruno Bernardo Döhler

Na região árida do Nordeste do Brasil, encontramos lagos antigos preservados nas rochas que contêm muitos fragmentos de ossos de mamíferos gigantes que viveram na Era do Gelo. Alguns desses fragmentos eram de dentes, onde foi encontrado um tipo de mineral preservado em seu interior. Tal mineral pode nos ajudar a entender melhor o que esses animais comiam, já que a composição isotópica (o quanto de isótopos de cada elemento está presente na amostra) pode fornecer informações sobre as fontes de alimento dos organismos fósseis e consequentemente podem apontar evidências sobre o ambiente no qual esses organismos viveram. 

A partir disso, foram selecionadas três amostras de dentes encontradas na fazenda Ovo da Ema, escavadas de um dos tanques no Município de Maravilha – Alagoas. Os espécimes, que viveram durante a época do Pleistoceno (entre 2,6 Milhões e 11,7 mil anos atrás), eram os seguintes: Toxodon platensis, conhecido como Toxodonte; Stegomastodon waringi, conhecidos como Mastodontes sul-americanos; e Eremotherium laurillardi, conhecido como Preguiça Gigante. A partir dessas amostras, e com um maquinário chamado espectrômetro de massa (uma máquina que nos ajuda a identificar moléculas), foi possível determinar as razões de isótopos de carbono e oxigênio para se verificar o sinal biogênico.

Depois da análise, os cientistas chegaram à conclusão de que as razões dos isótopos de carbono do mineral do esmalte do dente fóssil retém o sinal associado com o consumo de vegetação do tipo C3 ou C4 no paleoambiente. As plantas C3 são responsáveis pela maior parte da produção fotossintética mundial e vivem em comunidades onde sombreamento, luminosidade e temperatura são médias, enquanto as plantas C4 são numerosas entre as gramíneas e dominam a vegetação dos desertos e campos nos climas temperados quentes e tropicais. 

Por fim, foi possível interpretar o que esses três mamíferos do pleistoceno costumavam comer. O Bicho Preguiça e o Mastodonte sul-americano possuíam uma alimentação predominantemente de C4, enquanto os Toxodontes consumiam ambas as plantas C3 e C4. Assim sugere-se que os dois primeiros se alimentavam de gramíneas e os Toxodontes, de plantas aquáticas, já que as gramíneas estavam cada vez mais escassas. Esse tipo de pesquisa e descoberta são de extrema importância para a paleontologia, já que assim conseguiríamos ter mais conhecimento sobre os hábitos de animais tão importantes para a história da Terra.

Texto fonte:  VIANA, M. S. S.; SILVA, J. L. L.; OLIVEIRA, P. V.; JULIÃO, M. S. S. (2011). Hábitos alimentares em herbívoros da megafauna pleistocênica no nordeste do Brasil. Estudos Geológicos, v. 21, n. 2, p. 89-95. 

Disponível em: https://periodicos.ufpe.br/revistas/index.php/estudosgeologicos/article/view/260922. Acesso em: 03/04/2024

Fonte e legenda da imagem de capa: Uma restauração dos meso-megamamíferos do Pleistoceno que habitam pastagens de Sergipe, Brasil. incluindo: Glyptotherium, Toxodon, Panochthus, Eremotherium, Holmesina e Pachyarmatherium. https://commons.wikimedia.org/wiki/File:A-Pleistocene-meso-megamammals-from-Sergipe-Brazil.jpg


Texto revisado por: Fernanda Moreira Batitucci e Alexandre Liparini.

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