Paleontologia dos Alpes Cárnicos – Monte Cocco

Escrito em: 03 de Abril de 2024

Por: Caio Henrique de Martins Ferreira

O estudo realizado no Monte Cocco é a primeira parte do mapeamento da região dos Alpes Cárnicos, que se localiza no limite entre Itália e Áustria. Ele teve como objetivo reconstruir o processo de evolução da bacia durante o período Siluriano a partir da estratigrafia, ou seja, usando as camadas do sedimento da região do Monte Cocco, localizado na região oriental dos Alpes. A região do Monte Cocco é conhecida por ser rica em fósseis do Paleozoico e pela extração mineral de ferro e manganês. Por ser rica em fósseis, as rochas do monte são alvos de estudo de diversos geólogos, descrevendo inúmeros táxons de cefalópodes, que são moluscos como os polvos e lulas.

As rochas silurianas são distribuídas irregularmente em toda cadeia de montanhas e são, predominantemente, calcários bioclásticos, que são calcários formados por fragmentos de fósseis, de águas rasas, calcários contendo nautilóides e xistos intercalados com calcário. A desconformidade entre os períodos Ordoviciano e Siluriano criou uma fauna rica em conodontes (microfósseis) nesse espaço, o que possibilita afirmar que as rochas estudadas pertencem ao final do Siluriano (Ludlow-Pridoli). As características de deposição sugerem uma transgressão (quando o nível do mar aumenta, invadindo o continente) entre as épocas Llandovery e Ludlow, com uma sedimentação uniforme de calcário na época Pridoli.

A sequência estratigráfica do Monte Cocco é marcada por rochas carbonáticas de tom mais escuro, que marcam o Ludlow inferior. Por outro lado, as camadas acima são castanhas a vermelho escuro, devido à abundância de ferro e ao intemperismo da região. 

O conteúdo paleontológico é representado, em sua maioria, por cefalópodes, nautilóides, trilobitas e bivalves. Geralmente, cefalópodes em calcários depositados em forma de bioclastos por processos pelágicos, que ocorreram no fundo do oceano, e hemipelágicos, que ocorreram entre o mar aberto e o continente. Foi observada, na análise, grande concentração de pequenas conchas, o que indica retrabalho de deposição, que é quando o fóssil passa por processos depois do soterramento. Além disso, os calcários ricos em ferro são indícios de deposições em águas oxigenadas. 

O Monte Cocco é rico em cefalópodes (macrofósseis) e conodontes (microfósseis), com trilobitas e bivalves presentes em algumas camadas. As espécies do gênero Orthoceras são o tipo de cefalópodes mais abundantes encontrados. Foram encontradas, também, conchas raras, como de Cyrtocone, e indivíduos juvenis de Orthoceras contendo protoconchas, que são conchas jovens, se tornando apenas resquícios no organismo adulto. A fauna encontrada no Monte Cocco faz uma ligação com diversos pontos do norte da Gondwana, como o Sudoeste da Sardenha, Saara no Marrocos e, pelo fato de possuir o gênero Andigenoceras, com o Cazaquistão.

O estudo nos possibilita afirmar que os calcários contendo cefalópodes no Monte Cocco vão desde a época Llandovery até a Pridoli, compreendendo todo o Siluriano. Além disso, observamos a ocorrência de nautilóides jovens que portam protoconchas que, apesar de poucas, estão preservadas. O que foi observado pela primeira vez naquela região!

Texto fonte: Corradini, Carlo & Pondrelli, Monica & Serventi, Paolo & Simonetto, Luca. (2003). The Silurian cephalopod limestone in the Monte Cocco area (Carnic Alps, Italy): Conodont biostratigraphy. Revista española de paleontología. 35. 285-294

Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/256444339_The_Silurian_cephalopod_limestone_in_the_Monte_Cocco_area_Carnic_Alps_Italy_Conodont_biostratigraphy

Legenda da imagem de capa: Fósseis presentes nos Alpes Cárnicos

Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/256444339_The_Silurian_cephalopod_limestone_in_the_Monte_Cocco_area_Carnic_Alps_Italy_Conodont_biostratigraphy

Texto revisado por: Tiago Lopes Siqueira e Alexandre Liparini

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