Escrito em: 01 de abril de 2024
Por Danielle Assis
Fósseis terrestres do período Quaternário brasileiro são comumente descobertos em depósitos de rios, lagos, áreas aluviais, regiões costeiras e, sobretudo, em tanques naturais e cavernas. Esses são frequentes no nordeste do país, formados por sedimentos depositados em depressões em inselbergs que são formações rochosas que resistiram ao tempo e erosão. Dessa forma, os espécimes são costumeiramente encontrados em túneis repletos de sedimentos de origem siliciclástica nas cavernas. No entanto, no Espírito Santo, onde predominam rochas metamórficas e ígneas, a descoberta de fósseis de vertebrados é rara. Mesmo assim, foram encontrados mamíferos fósseis do Pleistoceno, destacando-se os restos de Eremotherium, Gomphotheriidae, Dayproctidae relatados por Paulo Couto em 1978 e fragmentos ósseos de Amphibia, Reptilia e Neornithes coletados em 1974. Esses fósseis foram encontrados em um conglomerado de seixos de mármore em matriz de argila localizada em uma pedreira (Indústria de Mármore Italva Ltda) na Serra de Gironda, no distrito de Itaoca, Município de Cachoeira de Itapemirim.
O material fóssil analisado consiste em diversos fragmentos ósseos, incluindo partes do crânio, mandíbula, vértebras, costelas e ossos dos membros inferiores, todos identificados sob o número UFES-Pal-001. Como dito posteriormente, esses fósseis foram coletados no Distrito de Itaoca- ES, durante a extração de mármore em uma jazida. O material foi encontrado depositado em uma fenda entre calcários e dolomíticos, parcialmente cobertos por argila. Após o resgate, os fósseis foram brevemente analisados e separados em três partes, sendo duas delas depositadas em coleções públicas no Museu do Espírito Santo (UFES), enquanto a terceira parte foi guardada em uma coleção particular no Município onde ela foi encontrada. Infelizmente, devido ao incêndio no Museu Nacional em 2018, apenas os espécimes tombados na coleção de paleontologia da UFES estão disponíveis para análises atuais
Após a investigação do material, concluiu-se que os fósseis encontrados na mesma área pertencem a um único individuo de Eremotherium Laurillardi,com exceção de um fragmento de dente e uma porção de fêmur que são atribuídos a outros animais. Dessa forma, a morfologia dos ossos, incluindo crânio, mandíbula, vértebras e tíbia, é congruente com características conhecidas da espécie E.laurillardi, uma preguiça gigante que habitava desde a América do Sul até os Estados Unidos. Ademais, a presença de ossos de outras espécies sugere transporte e deposição conjunta, enquanto as marcas nos ossos indicam exposição ao ar após a morte, embora por um curto período, e também mostram evidências de necrofagia por carnívoros, principalmente canídeos. Portanto, a análise da integridade física dos ossos sugere transporte hidráulico de baixa energia que os conduziu ao interior de uma fenda formada por rochas metamórficas.
Texto fonte: Germano, R.V.;Buchmann, R.;Rodrigues, T.(2019). Fósseis em uma frente de extração de mármore? Análises tafonômica e paleoicnológica de mamíferos de grande porte do quaternário do Espírito Santo, Brasil.Revista Brasileira de Paleontologia, v.22, n.3, p. 240-252. Doi: 10.4072/rbp.2019.3.06
Disponível em: https://sbpbrasil.org/assets/uploads/files/rbp2019306.pdf acessado em 03/04/2024
Fonte e legenda da imagem de capa: figura 9 do artigo
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Texto revisado por: Lucélio Batista, Alexandre Liparini.