Escrito em: 03 de abril de 2024
Por: Gustavo de Souza Siqueira
Apesar da grande diversidade de fósseis no Brasil, estudos paleontológicos no nosso país ainda são relativamente recentes. O território brasileiro contém várias bacias sedimentares de diversos períodos geológicos e uma delas é a Bacia do Paraná. Ela foi bastante estudada em relação ao período Devoniano, mas esse estudo se limitou apenas aos fósseis do estado do Paraná (Sub-bacia Apucarana) e, apesar do nome, essa bacia também engloba regiões do Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Goiás (além de estar em parte da Argentina, Uruguai e Paraguai) que possuem poucos estudos em relação aos seus fósseis. Com isso, os cientistas Fábio Augusto Carbonaro e Renato Pirani Ghilardi buscaram fazer um levantamento paleontológico sobre os fósseis do período Devoniano do estado de Goiás (Sub-bacia Alto Garças) com intuito de instigar mais estudos nesta região.
Em uma breve contextualização geológica, há a presença de siltitos e arenitos na Sub-bacia Alto Garças, a qual é dividida entre unidades 1, 2, 3 e 4 (unidades geológicas, ou seja, de diferentes tipos de ocorrências rochosas) do Grupo Chapada (grupo de determinadas rochas que estão na região). Todas as camadas contém arenito, sendo que a unidade 3 contém também folhelhos e a unidade 4 siltitos e folhelhos de coloração cinza escuro. O arenito e o siltito são rochas conhecidas por terem a possibilidade de conter conteúdo fóssil, já que suas origens sedimentares são associadas ao soterramento rápido de materiais na superfície, facilitando a fossilização.
Em geral, tem-se que o Devoniano é um período da era paleozoica que está compreendido entre, aproximadamente, 416 e 360 milhões de anos atrás, sendo mais antigo que os dinossauros, que viveram entre 230 e 66 milhões de anos. Foram encontrados registros fósseis do Devoniano em Goiás, que revelaram diversos animais que teriam vivido naquela região. Os principais tipos de fósseis encontrados foram de braquiópodes antigos (seres que vivem no fundo do mar, associados a conchas de duas valvas), de moluscos e de trilobitas, além de, em menor quantidade, tentaculitoideos (invertebrados com conchas em forma de cone). Ademais, uma certa quantidade de icnofósseis (marcas deixadas pelos seres vivos) e microfósseis foram encontrados.
Além do levantamento de novos fósseis encontrados, os cientistas puderam sinalizar novos afloramentos rochosos, mostrando como a região é rica em conteúdo e tem muito a ser explorada. Evidencia-se, portanto, a grande importância de fomentar os estudos paleontológicos no Brasil, visto que ainda há muito que se descobrir sobre os paleoambientes, paleofauna e paleoflora que já existiram em nosso país.
Texto fonte: Carbonaro, F.B.; Ghilardi, R.P;(2016) Fósseis do Devoniano de Goiás, Brasil (Sub-bacia Alto Garças, Bacia do Paraná),Papéis Avulsos de Zoologia(PAZ), v.56, n 11 pag 135-149.
Disponível em: https://www.scielo.br/j/paz/a/YkTLjCZKcTrcBVTXvkgF6Xz/#
DOI: 10.1038/s41598-022-09125-9.
Fonte e legenda da imagem de capa: Fósseis encontrados nos afloramentos pelos cientistas mostram a diversidade da fauna e flora no estado de milhões de anos atrás.
Disponível em: Figura 6 do artigo.
Texto revisado por: Luís Filipe Cardoso Queiroz e Alexandre Liparini.