A importância dos elementos químicos presentes em ossos e marfins de mamutes.

Escrito em: 26 de março de 2024

escrito por: Guilherme Ranieri

foto do interior da caverna cáustica, Hohle Fels. disponível em: https://www.visit-bw.com/en/article/hohle-fels/f84391fe-432d-4936-ac12-c55d19ec171a#/

Um artigo de 2023 nos mostra a importância que a Paleontologia e a Arqueologia têm para compreendermos melhor tanto os hábitos de vida dos mamutes, quanto a relação dos seres humanos com esses animais.

Este artigo analisou doze amostras de marfim de mamute e dez amostras de ossos provenientes do sítio paleolítico de Hohle Fels, localizado no Jura Suábio. Hohle Fels é uma caverna situada no vale do Achtal, próximo a Schelklingen, na região administrativa de Baden-Württemberg, Alemanha. Desde o século XIX, diversos achados pré-históricos são descobertos nesse local. Assim, a caverna constitui uma importante fonte de informações sobre o uso do marfim de mamutes pelos nossos ancestrais.

O marfim dos mamutes, de maneira semelhante ao dos elefantes, possuía uma fase orgânica, composta por colágeno (uma proteína estrutural que forma a matriz do tecido), e, ao longo do tempo, desenvolvia uma fase mineral, formada por apatita (um mineral que dá rigidez ao tecido). A fase orgânica, formada pelo colágeno, inclui aminoácidos como prolina e hidroxiprolina importantes para estabilizar as proteínas tornando o tecido resistente e flexível; já a fase inorgânica, corresponde à hidroxiapatita carbonatada, um tipo de mineral encontrado em dentes e ossos — inclusive nos dentes humanos — composto principalmente de cálcio e fósforo, com pequenas quantidades de carbonato. Essa substância é responsável pela rigidez e dureza do marfim. Com o passar do tempo, o marfim vai incorporando elementos químicos do ambiente à medida que cresce. Esse processo contínuo de crescimento e mineralização, transforma o marfim em uma verdadeira “caixa de informações” sobre as condições ambientais e climáticas vivenciadas pelo animal.

O principal objetivo desta pesquisa foi identificar elementos marcadores específicos do marfim, capazes de fornecer informações sobre o habitat dos mamutes. Para isso, foram utilizados o NewAGLAE, um acelerador de partículas, utilizado para identificar os elementos leves presentes na composição química do marfim e o PUMA/SOLEIL, um síncrotron de raios X, ótimo para mapear elementos pesados. Estes métodos permitiram detalhar a composição química do marfim — desde elementos maiores até os traços — de maneira menos invasiva e bem eficiente.

A partir das imagens obtidas com as composições elementares do marfim e dos ossos de elefantes em diferentes locais, foi possível realizar uma análise bastante completa das amostras. Alguns microelementos, como Cr, Se, Rb, Y e Ba, não foram detectados pelo PIXE (método utilizado para identificar os elementos mais pesados), devido ao baixo teor, mas foram identificados nas imagens por XRF síncrotron. Os elementos endógenos (Ca, Zn, Br e Sr) apresentaram distribuição uniforme na superfície e intensidades elevadas. Já os elementos exógenos (Ti, Cr, Mn, Rb, Y, Ba e Pb) apareceram de forma desorganizada sobre a superfície das amostras.

Comparando o marfim de Hohle Fels com o de outros sítios arqueológicos, observou-se uma leve diferença, sobretudo pela variação nos microelementos e pelo teor de F, que se mostrou mais elevado nas amostras da caverna. Essa diferença se deve ao fato de terem sido analisados tanto marfim de mamute proveniente do permafrost (gelo permanente) quanto marfim de elefante moderno. Dessa forma, ainda são necessários estudos adicionais para uma definição mais precisa.

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