Primeiras ocorrências de marcas de mordidas de carnívoro em fósseis de mamíferos do Pleistoceno no nordeste do Brasil

Escrito em: 29 de março de 2024

Por Isaely Vieira

Pela primeira vez, foram identificadas marcas de dentes de animais em um fóssil de mamífero do Pleistoceno (2.58 a 0.0117 Ma) no nordeste do Brasil. Esta descoberta ocorreu no sítio paleontológico de Jirau (Tanque de Jirau), localizado no Ceará. No entanto, esta não é a primeira vez que essas marcas são encontradas no Brasil. De acordo com Avilla et al. (2009) e Dominato et al. (2011), marcas similares já foram registradas em depósitos de idade semelhante nas regiões Norte e Sudeste do país.

Os fósseis do Tanque do Jirau foram datados como Pleistoceno tardio, com base na presença de espécies como Notiomastodon platensis e Xenorhinotherium bahiense (ambos animais da megafauna da época). A identificação das características foi conduzida através da comparação com a literatura especializada e fotografias de espécies semelhantes em coleções de instituições de pesquisas.

Foi observado que as marcas de dentes (classificadas como “scratches” ou ‘arranhões’) identificadas nos herbívoros de grande porte estavam presentes em ossos como fêmures, úmeros, tíbias e vértebras, principalmente na face medial e lateral dos ossos. Essa característica de “arranhões” é típica de carnívoros e carniceiros, que têm o hábito de ‘mordiscar’ os ossos para acessar os tecidos moles das carcaças, que estão em quantidade pequena acima dos ossos. As características observadas levaram os autores a descartar a possibilidade de as marcas terem sido causadas por seres humanos, felídeos ou ursídeos, já que as marcas nos ossos feitos por estes indivíduos têm padrões diferentes dos que foram observados nos ossos estudados. Eles sugerem que a Protocyon troglodytes (um canídeo do Pleistoceno) seja o possível responsável pelas marcas de dentes observadas nos fósseis de mamíferos do Nordeste do Brasil, já que ele foi considerado como um animal carniceiro por muitos cientistas.

A identificação dessas marcas é muito importante para compreender os estudos tafonômicos (estudo do processo de preservação do fóssil), além de permitir uma melhor compreensão das interações entre presas e predadores em paleocomunidades. A descrição das marcas também permite associá-las a táxons de carnívoros conhecidos na região durante o Pleistoceno.

Texto fonte:  JÚNIOR, H.I; PORPINO, K.O.; BERGQVIST, L.P. (2011). MARCAS DE DENTES DE CARNÍVOROS/CARNICEIROS EM MAMÍFEROS PLEISTOCÊNICOS DO NORDESTE DO BRASIL. Rev. bras. paleontol. Doi:10.4072/rbp.2011.3.08

Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/277469893_Marcas_de_dentes_de_carnivoroscarniceiros_em_mamiferos_pleistocenicos_do_Nordeste_do_Brasil

Fonte e legenda da imagem de capa: Figuras 3 do artigo. Figura 2(A) Marcas  de mordidas em um fóssil (B) Ampliação das  Marcas.


Texto revisado por: Fernanda Moreira Batitucci e Alexandre Liparini.

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