E se o filme “Vida De Inseto” tivesse como cenário a Terra, só que a 66 milhões de anos atrás, e na Antártida?

Escrito em: 23 de março de 2024

Por: Sofia Castro Machado

Como sabemos, a Antártida é um continente com temperaturas rigorosas, assim como é longínquo, ou seja, distanciado dos demais. Até porque, diferentemente dos outros, 98% do seu chão é gelo. Contém um inventário paleontológico deficitário no que diz respeito às interações entre plantas e insetos, as quais são vistas como vitais, uma vez que proporcionam um extenso conhecimento sobre a cronologia da cadeia alimentar, temperaturas e clima, diversidade de espécies e funcionamento das populações.

Foram encontrados espécimes fósseis diretamente relacionados a essa interação específica na Ilha Nelson, presente no Arquipélago das Ilhas Shetland do Sul, na Antártida, e possui uma idade entre 60 a 100 milhões de anos, sendo assim pertencente ao período chamado Cretáceo Superior. Compreende impressões de folhas pertencente ao gênero Nothofagus sp., nativo do respectivo continente, a qual fora encontrada na formação costeira “Fossil Hill”, composta por lava basáltica, arenito e rochas vulcanoclásticas, sendo alcançável apenas em momentos de maré baixa.

Para diferenciar quais folhas haviam sido deterioradas por insetos, alguns pontos foram colocados sob análise, dentre os quais: tecido de reação, o qual ocorre em caso de herbivoria, levando a um aumento do número de células em certas regiões do vegetal (galha), e singularidade das lesões, como a elaboração de túneis (minas). A partir dessa distinção, averiguou-se que, em um grupo de 200 folhas, 15 indicaram interação, havendo os dois modelos de lesão previamente mencionados; galhas e minas.

Outros indícios de uma possível interação englobam postura de ovos, túneis, fezes dessecadas e cicatrizes. Importante ressaltar que estes insetos são especialistas, isto é, possuem alimentação e hábitos bastante específicos. Dessa forma, as minas se fazem importantes no que concerne à segurança desse animal contra seus predadores e também, contra a perda de água para o ambiente. 

Em razão do pequeno número de táticas utilizadas pelos animais associadas à danificação da folhagem, depreende-se a existência de uma baixa diversidade. Isso pode ser justificado pela ocorrência de instabilidades climáticas, ambientais e ecológicas, assim como pela dificuldade de fossilização. A complexidade da preservação de fósseis reside em episódios de erosão, ventos fortes e movimentação do gelo que causam a decomposição do ser vivo ou destruição de seu fóssil antes que possa ser encontrado. Outros estudos discorrem sobre a Antártida e seu clima mais ameno que antes preponderou, dificultando a vida nesse ambiente, o que é justificado pela seguinte elevação da temperatura durante o Cretáceo Superior. Tal fator poderia ter colaborado com a instalação das interações inseto-planta neste novo clima, de maneira a concorrerem no mesmo local, convertendo tal vínculo em importante parte da história do planeta Terra. E a releitura dessa história? Com novas escavações e evidências fósseis, exatamente como fora com o caso do gênero Nothofagus e o inseto minador.

Texto fonte: SANTOS FILHO, E. B. D., BRUM, A. S., SOUZA, G. A. D., FIGUEIREDO, R. G., USMA, C. D., RICETTI, J. H. Z., TREVISAN, C., LEPPE, M., SAYÃO, J. M., LIMA, F. J., OLIVEIRA, G. R., & KELLNER, A. W. A.. (2023). First record of insect-plant interaction in Late Cretaceous fossils from Nelson Island (South Shetland Islands Archipelago), Antarctica. Anais Da Academia Brasileira De Ciências, 95, e20231268.

Disponível em: https://www.scielo.br/j/aabc/a/H39DmsfkXyHWmQF4kXrk8Cy/?lang=en#.

DOI: https://doi.org/10.1590/0001-3765202320231268.

Fonte e legenda da imagem de capa: Interação entre inseto e planta congelados no tempo.

Disponível em: https://www.scielo.br/j/aabc/a/H39DmsfkXyHWmQF4kXrk8Cy/?lang=en#.


Texto revisado por: Sandro Ferreira de Oliveira e Alexandre Liparini.

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