Escrito em: 22 de abril de 2025
Por Laura Costa Leite Gueron
Imagine poder visitar um sítio paleontológico sem sair da tela do computador? Graças a tecnologia que transforma fotos em modelos 3D, denominada fotogrametria, isso é possível!
Foi isso que pesquisadores da universidade estadual de São Paulo objetivaram fazer ao tirar centenas de fotos do interior de uma paleotoca. Localizada no Município de Doutor Pedrinho, SC e atribuída a espécie Megaichnus major, a paleotoca, considerada um icnofóssil (registros de uma atividade biológica nas rochas e sedimentos), foi escavada em arenitos da Formação Taciba, uma unidade litoestratigráfica, pertencente ao Grupo Itararé. Os responsáveis por essa escavação foram mamíferos gigantes que habitavam o planeta há milhares de anos.
Através da análise das dimensões dos túneis, assim como traços de polimento e marcas de garras duplas paralelas e traços entrelaçados e com convergência em “Y” foi possível delimitar que o animal escavador responsável pela formação dessa paleotoca foi ao menos um indivíduo de preguiça gigante da família Mylodontidae.
Tais medidas e marcas foram exaustivamente registradas e fotografadas a fim de se obter material suficiente para a reconstrução 3D, que depende de fatores minuciosos tais como a abertura da lente da câmera fotográfica, a quantidade de iluminação, o zoom e a padronização das imagens para o encaixe perfeito no modelo final. Com isso, os pesquisadores conseguiram recriar as texturas, os formatos dos túneis, os polimentos e os traços de escavação da paleotoca, disponibilizando os resultados em sites de livre acesso para que qualquer um possa sentir que está em uma estrutura formada há milhares de anos.
Nesse caso, a reconstrução 3D permite a visualização do interior detalhadamente de uma área de difícil acesso. Mas muito além disso, a tecnologia de Modelos Digitais Tridimensionais traz diversos benefícios para áreas como a paleontologia. Permite a preservação e conservação de sítios paleontológicos que podem deteriorar com o tempo ou até mesmo com o caráter destrutivo de escavações. Permite a revisitação de pesquisadores, para pesquisas sem necessidade de visitar o local. Democratiza o acesso à ciência, de modo que, com poucos equipamentos é possível aproveitar dos frutos dessa tecnologia. E muito além disso, essa é uma tecnologia que não se limita a paleontologia e que pode ser benéfica em diversas áreas da produção e divulgação de conhecimentos científicos.
Texto fonte: AUDI, Caroline; MEYER, Douglas; TJUI YEUW, Tan; BARALDO, Kleber Barrionuevo; FEY, Jesica Daniela; SPANGHERO, Natalie Fernandes; MUNHOZ, Marcelo Schereiber; OLIVEIRA, Bruno Júlio de; BUCHMANN, Francisco Sekiguchi. Fotogrametria de um icnofóssil escavado por Preguiças-gigantes (Megaichnus major). Revista Brasileira de Paleontologia, [S. l.], v. 25, n. 3, p.208–218, 2022. DOI: 10.4072/rbp.2022.3.04.
Disponível em: https://sbpbrasil.org/publications/index.php/rbp/article/view/306. Acesso em: 22 apr. 2025.
Fonte e legenda da imagem de capa: Imagem do modelo 3D da paleotoca Megaichnus major que permite a observação das marcas de garras na parede. (Imagem retirada do texto fonte.)
Texto revisado por: Fernanda Moreira Batitucci e Alexandre Liparini.