Primeira evidência de relação entre Barbeiro e Tripanossomatídeo, a chave para a distribuição da Doença de Chagas.

Escrito em: 10 de abril de 2025

Por: Victor Lucas Duarte Armani

Texto publicado também no espaço biótico <confira aqui>

Foi encontrado na República Dominicana, na Mina La Toca, entre as cidades de Puerto Plata e Santiago de los Cabalerros, um pedaço de âmbar que guarda a primeira evidência fóssil de um triatomíneo, popularmente conhecidos como barbeiros, com um tripanossomatídeo, possivelmente ancestral do Trypanosoma cruzi, o causador da doença de Chagas. No achado de cerca de 15 a 40 milhões de anos atrás, estavam presentes diferentes artrópodes que se alimentam de sangue, incluindo um barbeiro próximo a partículas fecais contendo os parasitos. Mas por que essa descoberta é tão importante?

A Doença de Chagas é uma doença endêmica da América Latina, causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi e é um problema de saúde pública que afeta cerca de 6-8 milhões de pessoas no mundo todo. Uma das características mais marcantes desse parasito é sua capacidade de infectar diversos tipos de seres vivos além de humanos, como mamíferos silvestres e aves. Porém nem sempre esse protozoário teve a capacidade de infectar tantos animais.

É teorizado que formas mais antigas de T. cruzi, eram mantidas em gambás, por volta de 65 milhões de anos atrás. Durante esse período os barbeiros ainda não existiam, então o parasito era transmitido a partir das glândulas anais dos gambás, penetrando barreiras e chegando na circulação sanguínea dos animais. Nesse contexto os hospedeiros da parasitose se limitavam a gambás, mas o que possibilitou a diversificação dessa característica?

Se você pensou nos barbeiros, você está totalmente correto. A associação da relação triatomíneo-barbeiro permitiu que o parasito “pulasse” para outros animais, e criasse um ciclo silvestre contínuo e amplo. O barbeiro se infecta quando pica um animal infectado, ingerindo junto com o sangue o parasita, no meio doméstico classicamente o ser humano é infectado por contato com as fezes desse barbeiro, mas no meio silvestre isso acontece majoritariamente quando no momento da picada o animal tenta revidar contra o inseto e acaba o ingerindo junto com o parasito se tornando infectado. Esse processo é um dos principais motivos pela ampla disseminação da doença na América Latina, assim como a causa da dificuldade para erradicá-la, uma vez que é basicamente impossível tratar e impedir que animais silvestres infectados transmitam a doença para outros.

Assim, a descoberta desse fóssil em âmbar é significativa, porque registra o primeiro momento em que a relação parasito-vetor já estava estabelecida, abrindo caminho para a diversificação dos hospedeiros de T. cruzi. Sem essa associação é bem possível que a doença permanecesse restrita a um grupo limitado de animais, sem se tornar um problema de saúde pública de proporção continental.  Além disso, ele também representa como o estudo paleontológico também conversa com o estudo de questões de saúde pública, sendo importantes para monitorar e entender como doenças chegaram no status que se encontram no mundo atual.

Texto fonte: Poinar, George. (2005). Triatoma dominicana sp. n. (Hemiptera: Reduviidae: Triatominae), and Trypanosoma antiquus sp. n. (Stercoraria: Trypanosomatidae), the First Fossil Evidence of a Triatomine-Trypanosomatid Vector Association. Vector borne and zoonotic diseases (Larchmont, N.Y.). 5. 72-81. 10.1089/vbz.2005.5.72. 

Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/15815152/

Legenda da imagem de capa: Fóssil de Triatoma dominicana sp.

Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/15815152/

Texto revisado por: Victor Lucas Duarte Armani, Tiago Lopes Siqueira, Sandro Ferreira, Alexandre Liparini

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