Escrito em: 23 de junho de 2025
Por: Sofia Castro Machado
O estudo da interação inseto-planta é de extrema relevância, isso porque é graças a uma dessas inter-relações, a que é conhecida como polinização, que muitas árvores tiveram sua reprodução e dispersão viabilizadas.
O avanço acelerado do desmatamento, o uso indiscriminado de agrotóxicos e os efeitos crescentes das mudanças climáticas têm provocado o declínio e até a extinção de diversas espécies de polinizadores. Essa situação é extremamente alarmante, pois esses organismos desempenham um papel essencial na manutenção da biodiversidade, na regeneração e sobrevivência das florestas — que, por sua vez, regulam o regime de chuvas, os ventos, a fauna, a temperatura, o armazenamento de água e o equilíbrio dos gases atmosféricos. Além disso, grande parte das culturas agrícolas que sustentam a alimentação depende direta ou indiretamente da polinização para ocorrer e se desenvolver adequadamente.
A fim de aprofundar-se nessa compreensão, registros fósseis são de significativa importância, apresentando evidências e informações sobre o comportamento dos polinizadores, como, por exemplo, de uma mosca, encontrada em Messel, na Alemanha, e datada em 47,5 milhões de anos. Seu fóssil estava seccionado em duas diferentes partes: a primeira apresentando uma “impressão” do dorso deste animal, ao passo que a segunda, do ventre.
O curioso fato a respeito do fóssil dessa mosca, é que nele era possível visualizar o papo, estrutura intestinal, repleta de pólen. Esse detalhe revela nada menos que a sua última refeição… ou melhor, a sua última ceia! Até então, as moscas fósseis registradas pertencentes a esse grupo não apresentavam comportamento de polinizadores, consumindo somente o néctar. Isso se apresentou, portanto, como a primeira observação de uma mosca das veias-emaranhadas (moscas da família Nemestrinidae), com tal hábito alimentar.
Com a análise dos pólens, constatou-se que estes pertenciam ao menos a quatro grupos de plantas, o que indica visitas sucessivas e permutáveis por parte dessa mosca a diferentes flores. A atração pelo pólen é mais incomum comparativamente ao néctar, sugerindo que o atrativo primário para essa mosca seria o próprio nectário, e posteriormente ela teria introduzido pólen na sua dieta.
Ademais, devido à configuração de sua cabeça e ao material intestinal, depreendeu-se que essas moscas não tinham a estrutura necessária para que pudessem permanecer sobrevoando as flores visitadas. Ocorre que, as plantas que ela polinizava, chamadas Decodon sp. e Parthenocissus sp., possuíam flores agrupadas, possibilitando que este inseto caminhasse de uma para a outra, sem necessitar visitá-las individualmente pelo ar.
Este registro paleontológico, então, sinaliza que esse grupo de moscas, também conhecido pelos cientistas como Hirmoneura, teve uma função muito impactante no que concerne à reprodução vegetal, sendo profundamente subestimadas e negligenciadas no campo da polinização, fato que reitera a urgência e o caráter inadiável de uma mudança.
Texto fonte: Wedmann, Sonja et al. (2021). The last meal of an Eocene pollen-feeding fly. Current Biology, Volume 31, Issue 9.
Disponível em: https://www.cell.com/current-biology/fulltext/S0960-9822(21)00232-3.
Fonte e legenda da imagem de capa: Fóssil de mosca que se alimenta de pólen com idade estimada em 47,5 milhões de anos.
Disponível em: https://www.cell.com/current-biology/fulltext/S0960-9822(21)00232-3.
Texto revisado por: Sofia Castro Machado, Sandro Ferreira de Oliveira e Alexandre Liparini.