Escrito em: 25 de março de 2024
Por: Mateus Batista
Um resumo sobre a cidade do Rio de Janeiro
A colonização portuguesa na cidade do Rio de Janeiro teve início na transição do século XVI para o século XVII. Nos primeiros anos, os colonizadores enfrentaram desafios como a falta de mão de obra qualificada, escassez de ferramentas e o trabalho com rochas duras, como o granito-gnaisse, que não eram comuns na Europa. Para superar essas dificuldades, começaram a importar rochas carbonáticas do continente europeu, como o Calcário de Lioz e de Pero Pinheiro de Portugal, além do Travertino Italiano. Posteriormente, o calcário brasileiro passou a ser explorado, especialmente a partir do século XIX. Tanto as rochas estrangeiras quanto as brasileiras possuem vestígios paleontológicos, como conchas de bivalves e estromatólitos.
Panorama Geral: Rochas Utilizadas nas Construções
As principais rochas utilizadas nas construções são originárias de Portugal, da região de Pero Pinheiro e Terrugem, conhecidas como “Calcários de Lioz”. Esses calcários, predominantemente brancos, possuem idades jurássicas e cretáceas e foram amplamente empregados como rochas ornamentais. A coloração branca do calcário sugere sua formação em ambiente aquático de baixa profundidade, alta energia e alto poder de oxidação, favorecendo a proliferação de bivalves do tipo rudistas. Além destas, foi utilizado o travertino italiano, formado pela deposição de águas termais durante a era Cenozoica. Outra rocha observada foi o metacalcário de idade paleoproterozoica da Pedreira de Cumbi, localizada em Cachoeira do Campo, ao sul de Ouro Preto, em Minas Gerais.
Monumentos e Construções Notáveis:
Chafariz do Mestre Valentim
O Chafariz do Mestre Valentim, construído em 1747 pelo governador Gomes Freire de Andrade, é um marco histórico importante no Rio antigo. Composto por Gnaisse Facoidal e calcário branco Lioz, este monumento revela aspectos paleontológicos notáveis. Em cortes transversais, são visíveis bivalves rudistas da Família †Radiolitidae, gênero †Radiolites, cujos fósseis destacam-se pela espessura e solidez das conchas, evidenciando um ambiente aquático do Cretáceo com forte energia hidrodinâmica.
Tribunal da Justiça
Inicialmente projetado para abrigar o antigo Entreposto Federal de Pesca e inaugurado em 1941, o Tribunal da Justiça foi posteriormente utilizado como sede da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB). Seu revestimento é feito de metacalcário de cor amarelada, provavelmente extraídos da Pedreira do Cumbi, Minas Gerais. Esse mármore apresenta estromatólitos, estruturas bioquímicas formadas por atividades microbianas, especialmente cianobactérias, mostrando cortes longitudinais semelhantes a faixas paralelas e transversais com formatos praticamente circulares.
Tabacaria Africana
A Tabacaria Africana, fundada em 1846 e frequentada pela elite do segundo império, incluindo o Imperador D. Pedro II, é considerada a casa comercial mais antiga da cidade. Sua fachada é revestida por dois tipos de calcários fossilíferos separados por uma faixa de calcário preto. Na parte inferior, há um calcário rosa fossilífero conhecido como calcário Encarnadão, ainda explorado nas regiões de Terrugem e Pêro Pinheiro, ao norte de Lisboa. Esses calcários, de idade cenomaniana (Cretáceo), apresentam a coloração rosa devido à presença de óxido de ferro, indicando deposição em ambiente oxidante. A assembleia fossilífera observada inclui bivalves rudistas da Família †Radiolitidae, gênero †Radiolites Lamarck, 1801, na parte inferior, e um revestimento superior de Calcário Lioz de cor clara, rico em fósseis de bivalves rudistas da Família †Caprinidae, gênero †Caprinula.
Texto fonte: Marco André Malmann MEDEIROS1 & Márcia Aparecida dos Reis, 2017, São Paulo, UNESP, Geociências, v. 36, n. 1, p. 118-137. Doi:https://doi.org/10.5016/geociencias.v36i1.12300
Disponível em: https://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.br/index.php/geociencias/article/view/12300 acessado 04/04/2024
Legenda da imagem de capa: rochas ornamentais, Rio de Janeiro, construções históricas, calcário de Lioz, bivalves rudistas, estromatólitos, arquitetura colonial, Tabacaria Africana, Chafariz do Mestre Valentim
Disponível em: https://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.br/index.php/geociencias/article/view/12300 acessado 04/04/2024
Texto revisado por: Leticia Lopes e Alexandre Liparini.