Escrito em: 31 de março de 2024
Por: Dani
*Texto publicado também no espaço biótico: <confira aqui>
Os golfinhos e seus parentes, como as baleias dentadas e os botos, fazem parte do grupo dos Odontoceti, composto por mamíferos marinhos com dentes. É notável que os golfinhos se destacam por possuírem cérebros surpreendentemente grandes em relação ao corpo, até maiores do que os de alguns primatas!
Essa peculiaridade levanta a questão: por que os golfinhos possuem cérebros tão grandes? O cérebro é considerado um “motor” que demanda muita energia para funcionar adequadamente. Portanto, ao observar que os golfinhos possuem cérebros tão grandes, acredita-se que há uma vantagem evolutiva relacionada com o tamanho do cérebro. Esta característica parece estar conectada à vida em sociedades complexas, como a dos golfinhos, onde há intensa comunicação, cooperação e competição entre os membros do grupo.
Contudo, os cérebros raramente fossilizam por serem de um tecido mole que costuma desaparecer antes de ser preservado em rocha. Assim, é necessário buscar outros métodos indiretos para estudar sua evolução, principalmente em grupos já extintos. Uma estratégia é estudar os endocastos – moldes da parte interior do crânio formados em alguns fósseis – que podem ajudar a entender características do cérebro como tamanho e formato. O presente estudo se refere ao endocasto de uma espécie fóssil chamada Prosqualodon davis, conhecido como o golfinho ‘tubarão dentado’ (shark toothed dolphin). Estes animais viveram na região da Nova Zelândia, no início do período Mioceno, cerca de 20 milhões de anos atrás.
Um grupo de cientistas realizou uma análise comparativa do endocasto deste golfinho arcaico com outros fósseis conhecidos, a fim de entender melhor como o cérebro evoluiu nos Odontoceti – grupo que inclui golfinhos e baleias dentadas. As descobertas sugerem que o aumento no tamanho do cérebro começou no início do Mioceno, nas linhagens que eventualmente deram origem aos golfinhos modernos. Ao mesmo tempo, houve perda de áreas cerebrais ligadas ao olfato, o que pode ter economizado energia e permitido seu uso em outras funções cerebrais. Essas evidências sugerem que espécies fósseis de golfinhos já estavam começando a viver em sociedades mais complexas durante o Mioceno.
Ainda há muito a se desvendar sobre a história evolutiva dos mamíferos aquáticos, principalmente sobre os cérebros dos golfinhos. Novos estudos comparativos com mais endocastos e de diferentes espécies são essenciais para mais avanços. Entretanto, este estudo mostra um avanço para o entendimento dessa história tão misteriosa.
Texto fonte: Yoshihiro Tanaka, Megan Ortega & R. Ewan Fordyce (2023). A new early Miocene archaic dolphin (Odontoceti, Cetacea) from New Zealand, and brain evolution of the Odontoceti, New Zealand. Journal of Geology and Geophysics, 66:1, 59-73.
Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/00288306.2021.2021956.
DOI: 10.1080/00288306.2021.2021956.
Legenda da imagem de capa: Crânio de Prosqualodon davidis no Museu de História Natural em Londres, Inglaterra.
Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Em_-_Prosqualodon_davidis_-_1.jpg.
Texto revisado por: Damiane Mello, Sandro Ferreira e Alexandre Liparini.