Escrito em: 20 de março de 2024
Por: Luiza Borges Brasileiro Leite
Assim como os animais modernos, aqueles que já foram extintos (incluindo os dinossauros não-avianos) estavam sujeitos a todo tipo de doença e lesão, desde parasitas até membros deslocados e ossos quebrados. Apesar de não poder curar os animais extintos, ao contrário da veterinária moderna, que busca atingir a saúde e bem estar dos nossos amigos peludos, a paleopatologia é uma ciência que pode nos ajudar a entender mais sobre os tipos de doenças e ferimentos que acometeram os animais do passado.
Descoberto por Salgado & Carvalho em 2008 no município de Uberaba, o Uberabatitan ribeiroi é uma espécie de titanossauro que pode nos ajudar a exemplificar o estudo de doenças e lesões em animais extintos. Sabe-se muito pouco sobre esses gigantes de 65 milhões de anos, já que apenas três espécimes diferentes foram descritos. No entanto, dois deles apresentam sinais de ferimentos e doenças, que serão discutidos adiante.
Primeiramente, o próprio holótipo (espécime usado para a primeira descrição de uma espécie) do U. ribeiroi apresenta indícios de lesão óssea em sua cauda: um calo ósseo em um arco hemal (osso da parte ventral da cauda de um vertebrado). O arco hemal desse espécime não apresenta indícios de alguma doença óssea, então sugere-se que o calo ósseo é proveniente da cicatrização de uma fratura causada por impacto.
O segundo espécime a ser discutido, sendo o maior dos três descritos, e portanto, o mais velho, apresenta uma patologia óssea mais intrigante: duas das vértebras do meio de sua cauda estão fusionadas. Isso deixou os paleontólogos intrigados, pois esse é o primeiro registro de vértebras fusionadas em titanossauros. Então, para descobrirem mais sobre a patologia curiosa, o dinossauro foi literalmente levado para o hospital: foram feitos exames de tomografia computadorizada de suas vértebras fusionadas no Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro.
Descobriu-se então que as vértebras estavam completamente fusionadas, destacando-se a fusão do corpo das vértebras, pela provável ossificação do disco intervertebral, e a fusão dos processos articulares posterior e anterior das vértebras, causada pela ossificação da articulação zigoapofisária direita, com desenvolvimento de um osteófito (isso tudo quer dizer que uma vértebra juntou-se à outra por causa de uma hipertrofia óssea em uma articulação do lado direito).
Além disso, os ligamentos longitudinais, especialmente do lado esquerdo das vértebras, também se encontram ossificados, e há osteófitos e exostoses (crescimento ósseo anormal, mas benigno) em diversos locais das vértebras. Outra evidência de patologia óssea importante que foi encontrada nas vértebras fusionadas, é a erosão óssea, em algumas regiões.
O conjunto de todas essas patologias ósseas indica que, provavelmente, o espécime de U. ribeiroi teve uma infecção no local das patologias. Apesar de a causa das alterações patológicas apresentadas ser de difícil determinação, é possível que o gigante do Cretáceo tivesse espondiloartropatia, ou seja, algum tipo de artrite, mais provavelmente osteoartrite, mais comum em organismos mais velhos, o que pode explicar o crescimento ósseo fora do comum apresentado.
Texto fonte: Martinelli, A. G., Teixeira, V. P. A., Marinho, T. S., Fonseca, P. H. M., Cavellani, C. L., Araujo, A. J. G., Ribeiro, L. C. B., Ferraz A. L. F. (2015). Fused mid-caudal vertebrae in the titanosaur Uberabatitan ribeiroi from the Late Cretaceous of Brazil and other bone lesions. DOI 10.1111/let.12117 © 2014 Lethaia Foundation. Published by John Wiley & Sons Ltd.
Disponível em: https://www.idunn.no/doi/full/10.1111/let.12117. Acessado em 20/03/2024.
Fonte e legenda da imagem de capa: Representação artística, em cores fantasia, do espécime de Uberabatitan ribeiroi, com a cauda machucada, indicando um tipo de infecção que a acometeu.
Disponível em: https://paleontologiahoje.com/2025/06/18/paleopatologia-a-veterinaria-dos-dinossauros/. Imagem autoral.
Texto revisado por: Sandro Ferreira de Oliveira e Alexandre Liparini.