Adaptações para o ambiente terrestre: A transição peixe-tetrápode

Escrito em: 04 de abril de 2024

Por: Gabriel Ferreira de Aguilar

A ideia de que, em um passado distante, um peixe “criou pernas e saiu da água” é bem conhecida. Entretanto, a evolução não é um processo linear e simples, com intuito de melhora. O processo que levou ao surgimento dos tetrápodes (grupo composto por vertebrados de quatro patas, incluindo aqueles que perderam essas patas, como as cobras e baleias) a partir de um ancestral comum aquático foi uma série de eventos que, por muito tempo, permaneceu obscura.

Inicialmente, os pesquisadores tinham apenas três fósseis de tetrápodes primitivos, afastados temporalmente entre si e um deles já desenvolvido e especializado para seu hábitat. Esse acervo limitado impediu, por muito tempo, a compreensão do processo que levou ao surgimento dessas criaturas. Porém, nos últimos vinte anos, novas descobertas ao redor de todo o mundo possibilitaram um maior entendimento das condições ambientais que possibilitaram a transição para o ambiente terrestre e as adaptações relacionadas a este estilo de vida.

Sabe-se agora que os parentes mais próximos dos tetrápodes são os peixes sarcopterigios, cujos representantes vivos atualmente são os celacantos e os peixes pulmonados. Os ossos das nadadeiras desses peixes possuem grande semelhança com o arranjo ósseo dos membros de tetrápodes primitivos, evidenciando sua relação evolutiva.

Com base em fósseis do período Devoniano, os pesquisadores puderam inferir que os primeiros tetrápodes ainda não eram capazes de se sustentar completamente fora da água, em vez disso, possuíam membros dianteiros fortes, adaptados para levantar a cabeça fora da água para respirar e se arrastar na lama em busca de alimento.

Ademais, estudos sobre o paleoambiente do Devoniano indicam que, durante o período de surgimento dos tetrápodes, houve um aumento na diversidade de plantas terrestres, criando um ambiente de alta disponibilidade de alimento e baixa concorrência. Ao mesmo tempo, muita matéria orgânica passou a ficar disponível e ser consumida por microorganismos decompositores, que utilizam oxigênio nesse processo. Assim, nessa época, há dados geológicos que indicam uma diminuição nos níveis de oxigênio atmosférico e uma diminuição ainda maior do oxigênio disponível nos corpos d’água, tendo possivelmente favorecido organismos capazes de conseguir oxigênio por outras fontes que não a água.

Essa sucessão de eventos (mudanças climáticas e atmosféricas, aumento de biodiversidade vegetal, surgimento de novos ambientes) possibilita a compreensão de um grupo que hoje é tão diverso e onipresente que nem se pode imaginar um tempo em que não existiam.

Texto fonte: Clack, J.A. (2009). The Fish–Tetrapod Transition: New Fossils and Interpretations. Evo Edu Outreach 2, 213–223. https://doi.org/10.1007/s12052-009-0119-2 (2023) Current Biology, vol. 33, n.12, pp 2417-2424.

Disponível emhttps://evolution-outreach.biomedcentral.com/articles/10.1007/s12052-009-0119-2.

Fonte e legenda da imagem de capa: Reconstrução artística de Tiktaalik roseae, um dos representantes mais antigos da superclasse tetrapoda.

Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Tiktaalik.


Texto revisado por: Lucélio Batista, Alexandre Liparini.

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