Escrito em: 24 de março de 2024
Por: Octavio Augusto Greco
Camaleões são animais fascinantes, com estilos de vida que variam de arbóreos a terrestres, habitando desde matas fechadas até savanas abertas, e distribuídos da África à Ásia e Europa. No entanto, são um grupo que deixa pouquíssimos registros fósseis, o que torna muito difícil sua caracterização e o estudo de sua história evolutiva. Por exemplo, até o momento, não há registros dos primeiros ancestrais da família. Dessa forma, investigar seu desenvolvimento e dispersão é uma tarefa bastante complexa.
Como, então, isso pode ser feito, já que não há evidências fósseis abundantes para confirmar hipóteses? Para esse estudo, foram realizadas análises do DNA mitocondrial desses animais, com foco em traços evolutivos que indicam uma certa cronologia, comparando esses dados com a biogeografia histórica e atual.
Os camaleões estão distribuídos na África, Europa e Ásia, predominando na África continental e em Madagascar. Acredita-se que o táxon tenha surgido em uma dessas regiões. Uma das questões levantadas é como ocorreu a dispersão entre esses dois locais, considerando que a origem do grupo teria acontecido após a separação de Gondwana, e que as diferenças genéticas entre as espécies desses locais datam de aproximadamente 50 a 90 milhões de anos. A principal conclusão é que houve uma dispersão oceânica da África para Madagascar, hipótese sustentada por estudos das correntes marítimas da época, além do fato de que seu grupo-irmão é encontrado apenas no território continental.
Pode ser, no entanto, que uma população mais antiga desse grupo tenha existido em Madagascar e sido posteriormente extinta. Nesse caso, não temos os indivíduos viventes, para recontar essa história através do DNA e também não teríamos (ainda) os fósseis, que corroborem essa possibilidade.
Posteriormente, a dispersão para a Ásia e Europa teria ocorrido, com as espécies alcançando e se diversificando nessas regiões há aproximadamente 10 milhões de anos.
Como se pode observar, a família Chamaeleonidae é relativamente recente, especialmente quando comparada a outros grupos de répteis. Esse caso evidencia a importância da vicariância e da dispersão oceânica na evolução e no povoamento das espécies — neste caso, superando a distância média de cerca de 1000 km que separa Madagascar do continente africano.
Texto fonte: Tolley, K; Townsend, T (2013). Large-scale phylogeny of chameleons suggests African origins and Eocene diversification. Proceedings of the Royal Society, v. 280 issue 1759.
Disponivel em: https://royalsocietypublishing.org/doi/full/10.1098/rspb.2013.0184#d1e225 acessado em 24/03/2024.
Doi: https://doi.org/10.1098/rspb.2013.0184.
Fonte e legenda da imagem de capa: Imagem explicitando a evolução da família. Em azul espécies de Madagascar, em verde da África, em roxo da Ásia e em rosa da Europa, laranja Seychelles e verde-lima Socotra.
Disponivel em: https://royalsocietypublishing.org/doi/10.1098/rspb.2013.0184.