Escrito em: 3 de novembro de 2023
Por: Artur Neves Guedes da Silva
Com frequência, pessoas fora do meio científico se deparam com afirmações que soam difíceis de acreditar, alimentando uma teia de desinformação que, em última instância, mina a credibilidade da ciência. Em 08/09/2023, uma publicação viral em redes sociais levantou dúvidas sobre sua veracidade, colocando em xeque o impacto da atividade humana no clima da Terra.
Para entender como é possível reconstruir o clima do passado com precisão, é essencial explorar as técnicas da paleoclimatologia. Elas não apenas revelam variações climáticas históricas, mas também fornecem detalhes sobre o ambiente e a dieta de animais extintos.
Uma das ferramentas mais importantes para estudar o paleoclima e a ecologia de fósseis, é a análise isotópica. Antes de detalhá-la, é fundamental compreender o que são isótopos: variantes de um mesmo elemento químico com massas diferentes. Por exemplo, o carbono (C) é encontrado predominantemente como carbono-12, mas uma pequena fração corresponde ao isótopo carbono-13. Isso vale para o oxigênio (O), cujos isótopos são essenciais para rastrear mudanças climáticas.
Camadas de gelo acumuladas ao longo de milênios preservam a proporção de isótopos de oxigênio de cada época, funcionando como um registro das temperaturas passadas. Isso ocorre porque a quantidade relativa de oxigênio-18 e oxigênio-16 na água varia conforme a temperatura global. O mesmo princípio se aplica a fósseis, indicando o clima das regiões onde essas espécies viveram.
Já os isótopos de carbono —como a relação entre carbono-12 e carbono-13— revelam hábitos alimentares de animais pré-históricos, a composição da vegetação, e permitem estimar idades geológicas (Leoni et al., 2023).
Esses métodos são respaldados pelo rigor científico e constituem evidências sólidas para embasar teorias. No entanto, sua divulgação acessível —seja por canais científicos ou pela mídia— é crucial para combater a desinformação, e mostrar que tais processos são reais e mensuráveis.
Texto fonte: LEONI, R. A.; DANTAS, M. A. T.; CHERKINSKY, A.; Silva, L. A. (2023). Paleoecologia isotópica (δ13C, δ18O) de mamíferos do Pleistoceno final–Holoceno de Ituaçu, Bahia, Brasil. Revista Brasileira de Paleontologia.
Disponível em: https://doi.org/10.4072/rbp.2023.2.05.
Fonte e legenda da imagem de capa: Imagem representando consequências das ações humanas.
Disponível em: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Klimawandel_003_2016_06_06.jpg
Texto revisado por: Gabriel Félix Diório e Alexandre Liparini.