Escrito em: 21 de janeiro de 2025
Por: Marcus Vinícius Santos Moreira
Uma descoberta recente na região da Patagônia, Argentina, mostrou que a família de plantas que inclui tomates, batatas e pimentas (Solanaceae), tem suas origens muito anteriores ao que se imaginava. Pesquisadores encontraram fósseis de frutos em forma de lanterna, datados de 52 Ma, da época Eoceno, momento ao qual várias linhagens de mamíferos surgiram e grandes bosques tropicais se espalharam pelo globo. Esses frutos, extremamente bem preservados, são, atualmente, os registros fósseis mais antigos conhecidos da Família Solanaceae, um grupo no qual raramente se encontram vestígios fósseis de flores e frutos.
A análise mostrou que esses fósseis têm características morfológicas típicas dessa família de plantas, como estruturas que protegem as sementes, chamadas cálices, que são semelhantes aos frutos de algumas espécies modernas, que inclusive são muito consumidas (especialmente na América do Sul). Essa descoberta reforça a ideia de que a família Solanaceae surgiu antes do que se imaginava, no supercontinente Gondwana, em um período anterior à separação dos continentes da América do Sul, África, Antártica e Austrália, possivelmente ainda no Cretáceo (o fim do reinado dos dinossauros), quando estes continentes já haviam começado seu processo de separação, mas ainda não haviam se separado completamente.
Além de nos contar a história evolutiva dessa importante família de plantas, que hoje é indispensável para a agricultura e alimentação humana, os fósseis revelam como era o ambiente do hemisfério sul há milhões de anos, antes da separação dos continentes que hoje conhecemos. Eles também oferecem pistas sobre como as plantas se diversificaram e se adaptaram ao longo do tempo, pois evidencia uma característica marcante de Physalis, um cálice inflado que envolve a flor e o fruto (Provavelmente uma característica que ajudou estas plantas na dispersão de suas sementes por meio da flutuação do fruto após enchentes), criando as variedades e a diversidade que conhecemos atualmente.
Essa pesquisa não apenas resgata o passado, mas também traz luz à conexão entre os ecossistemas antigos e os atuais, destacando o papel crucial dos fósseis no estudo da biodiversidade e das mudanças ambientais através dos tempos.
Texto fonte: WILF, P. et al. (2017). Eocene lantern fruits from Gondwanan Patagonia and the early origins of Solanaceae. Science, v. 355, n. 6320, p. 71–75.
Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/312089125_Eocene_lantern_fruits_from_Gondwanan_Patagonia_and_the_early_origins_of_Solanaceae.
DOI: http://dx.doi.org/10.1126/science.aag2737.
Fonte e legenda da imagem de capa: Frutas Lanterna: iluminando a origem fóssil da família do tomate.
Disponível em: https://www.bbc.com/news/science-environment-38511034.
Texto revisado por: Sandro Ferreira de Oliveira, Marcus Vinícius Santos Moreira e Alexandre Liparini.