Escrito em: 2 de novembro de 2023
Por: Diego Raphael Lewer Silveira
Do bolor de pão à levedura utilizada para fazer queijo, o reino fungi é diverso e fascinante. A maioria deles são sapróbios, ou seja, se alimentam de matéria orgânica, sendo fundamentais para a reciclagem de nutrientes no ambiente. Também, fungos modernos frequentemente formam relações estreitas com as plantas, podendo auxiliar essas na obtenção de nutrientes.
Um dos elos mais antigos de relações plantas-fungos data de cerca de 400 milhões de anos atrás durante o devoniano inferior! Há o envolvimento da planta fóssil chamada Aglaophyton major, ela apresentava características semelhantes às samambaias atuais, pertencentes do grupo das pteridófitas. No entanto, evidências fósseis de fungos associados as plantas terrestres tem sido notavelmente escassas, em teoria devido às características intrínsecas dos fungos, como seu tamanho microscópico, e seu padrão de decomposição, além dos desafios da preservação fóssil de plantas.
Todavia, recentemente foi encontrado na Formação Morrison localizada em no estado de Utah nos Estados Unidos, um fóssil permineralizado – ou seja, com precipitação de minerais no interior dos tecidos – de madeira com as hifas preservadas. Esse tronco data do Jurássico Superior, cerca de 161 milhões de anos atrás, e foi identificado como de uma espécie enigmática pertencente a um gênero semelhante ao das coníferas, o Xenoxylon.
Examinando seções finas do fóssil no microscópio, os pesquisadores conseguiram comparar áreas com maior decomposição com outras mais intactas, embora a evidência mais embasada da presença do fungo foi a verificação de um micélio bem preservado. Os padrões de decomposição de fungos modernos chamados de “white rot”, (principais fungos decompositores de lignina, substância presente em troncos), é extremamente parecido com o observado, o que sugere que as observações feitas no tronco permineralizado são de um processo de decomposição avançado, e não um mero artefato da fossilização. Além disso, a identificação das hifas permitiu a inclusão desse fungo em um gênero, o Palaeancistrus.
Por meio da observação do passado com um objeto do presente, é possível compreender as relações ecológicas do Jurássico Superior entre plantas e fungos. Além disso, o simples tronco fossilizado serviu como uma janela para reconstruir a biodiversidade fúngica tanto em termos temporais quanto geográficos na região.
Palavras-chave: Fungos, plantas, Jurássico, Formação Morrison, coníferas, fóssil
Fonte e legenda da imagem de capa: https://www.nps.gov/dino/learn/nature/images/Morrison-Plants-2_3.jpg : Ilustração da reconstrução da flora da Formação Morrison. Já foram encontrados diversos fósseis de plantas do local que permitem uma reconstrução cheia de samambaias, cicadófitas, ginkos e coníferas tão altas quanto as sequoias atuais. Créditos: NPS / Bob Walters and Tess Kissinger
Texto fonte: Ancient Basidiomycota in an extinct conifer-like tree, Xenoxylon utahense, and a brief survey of fungi in the Upper Jurassic Morrison Formation, USA
Disponível em: https://doi.org/10.1017/jpa.2023.12
Texto revisado por: Gabriel Félix Diório