A cobra que previu o clima

Escrito em: 03 de novembro de 2023

Por Hanna Moara Ferreira de Souza

De acordo com as análises dos restos encontrados, as vértebras da Titanoboa são muito similares às de constritoras atuais, como jiboias e sucuris, porém são assustadoramente maiores. Para estimar o tamanho da espécie, os pesquisadores analisaram as vértebras encontradas, combinadas à região do corpo na qual se encontravam.

Desde muito tempo as cobras e serpentes encantam o imaginário popular, obras cinematográficas como Anaconda (1997) ou Anaconda 2: Em Busca da Orquídea Sangrenta (2004) povoam a imaginação dos espectadores, com cenas de ação extrema. Estrelando em representações grotescas e sanguinárias animais que conhecemos hoje como sucuris (gênero Eunectes). Em todo o mundo, existem quatro espécies de sucuris, sendo elas a sucuri-amarela (Eunectes notaeus), a sucuri-verde (Eunectes murinus), a sucuri-malhada (Eunectes deschauenseei) e a sucuri-da-Bolívia (Eunectes beniensis), das quais três são encontradas no Brasil. E se eu te disser que os filmes não estão tão errados assim? E se serpentes de proporções gigantescas realmente rastejaram pela Terra?  Essas cobras gigantes e monstruosas retratadas nos filmes já foram tão reais quanto eu e você!!

Apresento-lhes a Titanoboa cerrejonensis, a única espécie dentro do gênero Titanoboa, um réptil espetacular que rastejava pelas florestas tropicais da América do Sul e dominava o topo da cadeia alimentar. Datada de cerca de 60 milhões de anos atrás, na Época Paleoceno, esse animal atingiu proporções nunca antes relatadas em qualquer outra serpente, com cerca de 14 m de comprimento, 1 m de diâmetro e pesando cerca de 1,5 toneladas essa cobrona definitivamente botava medo em qualquer desavisado pelo caminho. Os primeiros registros fósseis desses animais foram encontrados durante uma expedição do pesquisador Jonathan Bloch, paleontólogo especialista em vertebrados da Universidade da Flórida, e por Carlos Jaramillo, paleobotânico do Smithsonian Tropical Research Institute, do Panamá, em 2009, na Formação Cerrejón, nas minas de carvão de Cerrejón, em La Guajira, Colômbia.

 Outra estimativa de extrema importância só se tornou possível graças à descoberta desta espécie. Com a descoberta e os estudos sobre a Titanoboa, sabe-se que elas eram animais ectotérmicos, popularmente conhecidos como “animais de sangue frio”, assim como as cobras atuais ela precisava absorver calor do ambiente para manter sua temperatura corporal. Mais do que isso, precisava do calor principalmente para manter seu metabolismo funcionando, permitindo ao animal realizar suas atividades principais: caçar e procriar.  Para permitir que atingissem proporções gigantescas e manter o pleno funcionamento de seus corpos gigantescos, o clima no período Paleoceno deveria ser significativamente mais quente do que o atual. Por meio de cálculos, os pesquisadores afirmam que a paleotemperatura média do local onde os fósseis foram encontrados era em torno de 30° a 34°, muito mais alta que as temperaturas atuais para essa região. Essa comparação indica que, evolutivamente, as maiores cobras atuais ainda são muito menores do que a Titanoboa, o que sugere uma possível relação entre temperaturas mais baixas e o menor tamanho corporal entre as serpentes.

Apesar de todas essas descobertas fascinantes, ainda falta muito a ser desvendado. O que se sabe sobre os hábitos, habitat, reprodução e alimentação desses animais, por meio de estudos e muita pesquisa, é que, possivelmente, a Titanoboa era um réptil semiaquático, que vivia em florestas tropicais e pântanos, e que poderia atingir aproximadamente 30 anos de idade. Além disso, durante a reprodução, as fêmeas poderiam gerar em torno de 80 filhotes, que já nasciam prontos para caçar. Em relação à alimentação, foi possível inferir, através de análises craniais, que elas se alimentavam de animais aquáticos igualmente grandes, como peixes, tartarugas e até crocodilos.

Texto fonte: Head, J., Bloch, J., Hastings, A. et al. (2009). Giant boid snake from the Palaeocene neotropics reveals hotter past equatorial temperatures. Nature 457, 715–717.

Disponível em: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/olhos-infravermelhos-e-ataque-fatal-5-curiosidades-sobre-as-gigantes-cobras-titanoboa.phtml.

DOI: https://doi.org/10.1038/nature07671.

Fonte e legenda da imagem de capa: Réplica em tamanho real da Titanoboa cerrejonensis na exposição “Titanoboa: Monster Snake”, no museu Smithsonian, em 2018.

Disponível em: https://www.smithsonianmag.com/science-nature/how-titanoboa-the-40-foot-long-snake-was-found-115791429/.

Texto revisado por: Damiane Mello, Sandro Ferreira e Alexandre Linparini.

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