Escrito em: 06 de novembro de 2023
Por: Izabella Dafne Rocha
Quem nunca escutou a pergunta: “Quem veio primeiro, o ovo ou a galinha?” e criou várias hipóteses na cabeça, que atire a primeira pedra. Você também já pode ter escutado ou lido em algum lugar que os cientistas acreditam que foi o ovo, afinal, várias espécies de dinossauros, que são os antepassados diretos das aves, já colocavam ovos. Porém, um artigo publicado na revista Nature Ecology & Evolution em 2023, escrito por Baoyu Jiang e seus colaboradores, nos leva a uma descoberta que pode mudar a maneira como vemos a história da vida na Terra.
Jiang, um professor de paleontologia da Universidade de Nanjing na China, investigou os fósseis dos primeiros amniotas, que são os animais cujos embriões são envolvidos por uma membrana amniótica. Seres humanos são exemplos de amniotas, pois quando um feto está em gestação, é produzido o que chamamos de líquido amniótico. A nova descoberta foi surpreendente: essas criaturas antigas, em vez de depositar ovos como muitos de nós imaginamos, eram vivíparas. Isso significa que elas davam à luz a seus filhotes, assim como os mamíferos fazem hoje.
No estudo, foi observado que entre diferentes espécies de Choristodera (grupo de répteis semi-aquáticos pré-históricos que viveram durante a “Era dos Dinossauros”) algumas podiam pôr ovos, já outras podiam dar à luz filhotes. Além disso, a pesquisa argumenta que a ausência de evidências fósseis de ovos de tetrápodes antes de cerca de 190 milhões de anos atrás sugere que a casca dura e mineralizada dos ovos evoluiu mais tarde. Os cientistas confirmaram essa teoria por meio de uma análise de estados ancestrais, que é uma técnica usada para inferir características dos ancestrais com base nas relações evolutivas e nas características das espécies atuais.
O estudo mostrou que no começo desse processo existia uma maior diversidade no que diz respeito ao período de gestação dos embriões no corpo da mãe. Isso significava que certas espécies podiam manter seus filhotes dentro de si até que o ambiente externo se tornasse mais seguro para o nascimento, uma habilidade que ainda é evidente em alguns répteis e anfíbios, que existem hoje em dia e é denominada de retenção prolongada de embriões (RPE). Portanto, por essa nova perspectiva, não necessariamente o ovo veio primeiro que a galinha, ou melhor, que o ancestral das galinhas atuais. A depender do ancestral que consideramos a característica original poderia ser o embrião se desenvolver dentro do corpo da mãe, sem a presença de um ovo.
Texto fonte: Jiang, B., He, Y., Elsler, A. et al. Extended embryo retention and viviparity in the first amniotes. Nat Ecol Evol 7, 1131–1140 (2023).
Disponível em: https://doi.org/10.1038/s41559-023-02074-0
Fonte e legenda da imagem de capa: Pintinho observando com curiosidade a casca do ovo eclodido. Extraída do site Freepik.
Texto revisado por: Letícia Lopes e Alexandre Linparini