Escrito em: 11 de Abril de 2023
Por: Marcela Matos
As preguiças gigantes, que surgiram no Pleistoceno e foram extintas há cerca de 10 mil anos, constituíram um enorme grupo pertencente à ordem Xenarthra. Elas originaram-se na região da Patagônia, na América do Sul, e fazem parte da megafauna brasileira, juntamente com mastodontes, tatus-gigantes e tigres-dentes-de-sabre.
Atualmente, sua anatomia e hábitos de vida são bastante conhecidos e estudados devido à grande quantidade de fósseis descobertos no continente sul-americano, porém ainda existem muitas discussões sobre o tema. Por meio de estudos, sabe-se que esses animais habitavam paleotocas, que são estruturas biogênicas escavadas por mamíferos gigantes nos sedimentos ou na superfície. Essas estruturas podem funcionar como moradia temporária ou permanente e foram registradas no Brasil, nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Uma curiosidade interessante sobre o estudo das paleotocas é que, na ausência de fósseis em seu interior, as dimensões das galerias, as marcas de escavação e as marcas de osteodermos também podem ser utilizadas como forma de identificação do organismo responsável pela escavação. As paleotocas são consideradas icnofósseis e são importantes para revelar hábitos de vida de diversos organismos, devido às marcas deixadas por eles nas paredes e no teto.
Em um estudo realizado por pesquisadores em Minas Gerais, paleotocas foram descritas e a possibilidade de um estilo de vida gregário das preguiças gigantes foi discutida. O estudo foi conduzido no norte de Minas Gerais, em uma área associada ao geossistema de cangas/formações ferríferas do Membro Riacho Poções. Inicialmente, as paleotocas foram identificadas, mapeadas e tiveram sua topografia estudada.
Posteriormente, essas estruturas tiveram seu interior analisado em detalhes. Ao todo, foram identificadas 15 novas paleotocas, distribuídas de maneira agrupada. Essa distribuição agrupada das paleotocas sugere que diversas preguiças escolheram o mesmo local para escavar, o que foi interpretado como uma evidência de comportamento gregário, ou seja, evidência de que esses animais se reuniam em grupos. Além disso, foram encontradas superfícies polidas de formato elíptico no interior dessas estruturas, que foram atribuídas ao desgaste da rocha devido ao atrito com a pelagem do animal durante seu repouso, uma vez que possuem dimensões compatíveis com as preguiças gigantes. Essas superfícies ocorriam de uma a três em uma mesma toca, o que sugere que as preguiças dormiam juntas.
Texto fonte: BUCHMANN, Francisco Sekiguchi et al. Evidência de vida gregária em paleotocas atribuídas a mylodontidae (preguiças-gigantes). Revista Brasileira de Paleontologia, v. 19, n. 2, p. 259-270, 2016.
Disponível em: http://hdl.handle.net/11449/169099
Fonte e legenda da imagem de capa: Superfícies polidas de formato elíptico encontradas nas paleotocas, que evidenciam o comportamento gregário das preguiças gigantes. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/307526053_Evidencia_de_vida_gregaria_em_paleotocas_atribuidas_a_Mylodontidae_preguicas-gigantes
Texto revisado por: Cíntia Silva e Alexandre Liparini.