Beachrocks e microfósseis: Estudos paleoecológicos e paleoclimáticos na costa sul do Brasil

Escrito em: 08 de abril de 2022

Por: Roberta Verônica Palhares

Os beachrocks são rochas sedimentares formadas a partir da precipitação de carbonato de cálcio depositado em águas rasas e tropicais sob influência de águas subterrâneas e temperaturas superiores a 20°C. Além de sua importância paleoclimática e paleontológica, essas rochas são importantes para a reconstrução dos ambientes em que se depositam sedimentos e estudos paleoecológicos, especialmente quando apresentam microfósseis.

Na Bacia Sedimentar de Pelotas, localizada na costa sul do Brasil, existem quatro sistemas de lagoas e barreiras que foram formados por mudanças no nível do mar durante quatro períodos diferentes da história, permitindo notar-se como o nível do mar mudou ao longo do tempo e afetou a formação desta região costeira. Um desses sistemas é a Barreira do Holoceno IV, uma faixa de areia costeira com mais de 750 km de comprimento e várias lagoas e lagos ao longo do seu caminho. Estudar os padrões de ampliação, estabilidade e diminuição das praias nessa barreira é importante para entender como a linha costeira se desenvolve e se comporta diante das mudanças no nível do mar.

Um estudo recente coletou uma amostra de beachrock em uma praia no município de Imbé, no Rio Grande do Sul, durante o outono e inverno de 2021. As amostras foram avaliadas macro e microscopicamente, e foram identificados vários constituintes biogênicos, como moluscos, cirrípedes, foraminíferos, ostracodes, restos de peixes raros e espinhos de equinodermos. A classificação dos beachrocks envolve uma análise microscópica detalhada, mas neste estudo, as amostras foram classificadas de acordo com suas características macroscópicas, o que resultou em três grupos diferentes.

O estudo examinou as rochas de praia dos tipos A e B e encontrou microfósseis em todas as amostras, especialmente os ostracodes, que foram bem preservados e abundantes o suficiente para permitir uma identificação taxonômica. Foram identificadas 16 espécies de ostracodes em 14 amostras, correspondendo a 15 gêneros e 12 famílias. A espécie mais comum foi Cyprideis multidentata, seguida por Argenticytheretta levipunctata. As estruturas quaternárias submersas ao longo da plataforma continental, interpretadas como paleolitorais, são uma fonte de fragmentos de beachrock erodidos e transportados para a costa pelas ondas. A idade precisa dessas estruturas ainda é indeterminada.
Os beachrocks são importantes para entender como os ecossistemas costeiros se desenvolvem e se adaptam às mudanças ambientais, e a análise micropaleontológica dessas rochas pode fornecer informações valiosas sobre ambientes deposicionais e estudos paleoecológicos. Além disso, a investigação de estruturas costeiras como a Barreira do Holoceno IV e os sistemas de lagoas e barreiras da Bacia de Pelotas pode fornecer informações sobre como o nível do mar mudou ao longo do tempo e como isso afetou a região costeira.

Texto Fonte: Bergue, CT, Lopes, RP, Caron, F, Ritter, M do N, Rodrigues, FL (2022). PALEOECOLOGICAL CHARACTERIZATION OF OSTRACODS IN BEACHROCKS FROM THE NORTHERN SECTOR OF THE RIO GRANDE DO SUL COASTAL PLAIN, BRAZIL. Revista Brasileira De Paleontologia, 25(4),292–302. Disponível em: <https://sbpbrasil.org/publications/index.php/rbp/article/view/345/134> Acesso em: 17/05/2024


Fonte e Legenda da Imagem da Capa: Ostracodes identificados em beachrocks. Figura 3 do artigo. Disponível em: <https://sbpbrasil.org/publications/index.php/rbp/article/view/345/134> Acesso em: 17/05/2024


Texto revisado por: Luiza Leite e Alexandre Liparini.

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