Evidências fósseis de parasitismo: Braquiópodes e tubos

04 de abril de 2023

Por: Octavio Augusto Greco Gomes de Vasconcelos

O parasitismo é uma relação ecológica em que um organismo utiliza outro ser vivo para benefício próprio, causando prejuízo a este último. Será possível encontrar registros fósseis de interações como essa? Bom, essas amostras não são nada fáceis de serem encontradas e muito menos essas relações de serem identificadas, o que as torna extremamente interessantes, quando descobertas. Essa oportunidade de estudo paleontológico ocorreu no sul da China, onde pesquisadores descobriram evidências de que um braquiópode (animal visualmente similare ao bivalve, mas no qual as duas partes de sua concha se diferem), do período Cambriano Inferior, há mais de 500 milhões de anos, estava sendo parasitado por um organismo que vivia em tubos.

Com a análise das amostras, foi possível afirmar que o parasitismo em questão é chamado de cleptoparasitismo, quando um animal rouba comida ou recursos de outro. Nesse caso, os tubos incrustantes estavam alinhados com as correntes alimentares do branquiópode, sugerindo que o parasita estava se aproveitando das correntes alimentares do organismo. Além disso, os pesquisadores fizeram análises estatísticas para determinar se os braquiópodes com tubos incrustados apresentavam biomassa reduzida, o que indicaria menor aptidão (capacidade do organismo parasitado de sobreviver e se reproduzir em seu ambiente), em comparação com aqueles sem tubos. Esse dado científico reforçaria a presença de tal relação desarmônica.

A descoberta mencionada no estudo é significativa porque, até então, não existiam evidências claras de interações parasito-hospedeiro que pudessem ser comprovadas antes do período Cambriano. Essas evidências nunca foram encontradas antes do Cambriano porque o período Ediacarano, que ocorreu antes do Cambriano, apresenta um registro fóssil bastante peculiar, com organismos em sua maioria simples e pouco diversificados. No entanto, essa nova descoberta sugere que essas interações podem ter surgido muito antes do que se pensava, especificamente no início do período Cambriano ou mesmo um pouco antes deste.

Mas o que teve de tão especial no período Cambriano? Ele é conhecido por ser um momento de grandes inovações evolutivas que levaram a uma explosão de diversidade de vida no planeta! Então, o que impediria que as interações parasito-hospedeiro fossem uma dessas inovações?

A ampla associação entre os organismos que vivem em tubos e os braquiópodes revela que sistemas íntimos de parasitos-hospedeiros surgiram nas primeiras comunidades bentônicas do Cambriano. Esse surgimento pode ter desempenhado um papel fundamental na condução das inovações evolutivas e ecológicas associadas à explosão do Cambriano, podendo nos ajudar a entender melhor a evolução da vida e como os animais interagem uns com os outros.

Além disso, esse estudo pode ter implicações importantes para a pesquisa futura em paleontologia e biologia evolutiva. A relação parasitária descoberta neste estudo pode ajudar a identificar outras relações similares em outros fósseis, ajudando a elucidar o papel do parasitismo na evolução da vida na Terra.

Texto Fonte: Zhang, Z., Strotz, L.C., Topper, T.P. et al. Uma interação cleptoparasita-hospedeiro incrustante do início do Cambriano . Nat Commun 11, 2625 (2020), jun de 2020. Acesso em: 08/04/2023.

DOI: https://doi.org/10.1038/s41467-020-16332-3

Disponível em: https://www.nature.com/articles/s41467-020-16332-3

Fonte e legenda da imagem de capa: Visualização da disposição dos tubos encrustados no Braquiópode.


Texto revisado por: Beatriz Fonseca Durão e Alexandre Liparini

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