Fossilização de tecidos nervosos

Escrito em: 07 de julho de 2023

Por: Cibelle Giovana Silva Santos

Você já parou pra pensar se em um fóssil os órgãos e tecidos de um organismo se preservam? E ainda, o seu sistema nervoso?

Certamente, se a preservação desses tecidos fosse algo comum e relativamente fácil, já teríamos mais informações valiosas sobre esses organismos e suas histórias evolutivas. Entretanto, não é esse o nosso cenário atual. A preservação do sistema nervoso é algo complexo e envolve condições específicas para acontecer, sobretudo do ambiente. Isso pois variáveis como a temperatura, umidade e pressão pode afetar diretamente na estrutura do tecido, quebrando ligações entre proteínas, ou mesmo estimulando o crescimento de microrganismos que irão deteriorar o tecido. Além do mais, tem um fator de compactação sobre o tecido que pode fazer com que detalhes importantes e essenciais sejam perdidos.

Mas não para por aí, se a fossilização já é difícil devido a todos esses fatores, imagine em um invertebrado e de corpo mole, as chances são menores ainda. Isso acontece, porque após a morte do organismo, a preservação acontece por meio de restos orgânicos, e com o tempo essa matéria orgânica vai ser mais facilmente transformada em querogênio, que em definição é a parte insolúvel da matéria orgânica que posteriormente é transformada em petróleo, gás natural ou grafite, ou seja, sem fossilização!

Todavia, por mais que raro, a fossilização de tecido, sobretudo, o tecido nervoso em organismo de corpo mole ainda acontece sobre as condições específicas. Uma prova disso é o achado de uma formiga do cretáceo, espécime do grupo extinto de formigas – Zigrasimecia, preservada no âmbar, no Vale de Hukawng, província de Kachin; âmbares fornecem uma melhor possibilidade para tecidos serem fossilizados pois mantém a integridade e estrutura devido às suas propriedades químicas que impedem a decomposição do material e protege da ação de fatores externos. Nessa formiga, detalhes como como o cérebro, o sistema exócrino principal, o sistema digestivo e grupos musculares, puderam ser observados e analisados, contribuindo para o entendimento da estrutura interna e auxiliando no entendimento da evolução e sociabilidade das formigas, já que o cérebro é o principal órgão que coordena o comportamento desses animais.

Foi possível observar também evidências de cérebros fossilizados em animais invertebrados, especificamente em artrópodes cambrianos, no Burgess Shale; que é um depósito de fósseis descoberto nas montanhas rochosas canadenses, que teve um grande potencial em preservar tecidos moles após um deslizamento de uma variedade fina de lama. Os espécimes foram preservados sobretudo com os filmes de carbono e com a mineralização expondo detalhes estruturais importantíssimos para o estudo de paleontólogos que puderam propor, por exemplo, a presença de um sistema visual complexo nos artrópodes cambrianos e o desenvolvimento estrutural do cérebro, tudo isso em conjunto com estudos que medeiam a origem dessas estruturas.

Desse modo, vemos como é complexo estudos nesse campo, mas que a paleoneuranatomia está avançando em pesquisas, principalmente com a utilização atual de novos equipamentos, técnicas químicas e de microscopia, que permitem análises bem estruturadas do sistema nervoso e dos seus componentes.

Textos fonte: ARIA, C., VANNIER, J., PARK, T.- Y. S., GAINES, R. R. (2023). Interpreting fossilized nervous tissues. BioEssays, 45, e2200167.

Doi: https://doi.org/10.1002/bies.202200167.

Disponível em <https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/bies.202200167>, acessado em: 29/04/2024.

ZHUANG, Y., XU, W., ZHANG, G. et al. (2022). Unparalleled details of soft tissues in a Cretaceous ant. BMC Ecol Evo 22, 146.

Doi: https://doi.org/10.1186/s12862-022-02099-2

Disponível em: <https://bmcecolevol.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12862-022-02099-2>, acessado em 29/04/2024

Fonte e legenda da imagem de capa: Vista da formação Burgess Shale, Parque Nacional de Yoho. Disponível em <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Burgess_Shale_from_Emerald_Lake.jpg>, acessado em: 29/04/2024.


Texto revisado por: Vicente Sousa e Alexandre Liparini

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