Relação pássaro-flor: a evidência mais antiga

Escrito em: 10 de abril de 2023

Por: Amanda Pacheco

Atualmente nós sabemos que as aves são importantes polinizadores das flores, assim como insetos (as abelhas e as borboletas, por exemplo). Mas será que foi sempre assim?

A ecologia do passado é muito estudada, porém, este é um trabalho difícil, já que o conhecimento sobre as relações entre os seres vivos, que existiram há vários anos, é obtido por meio de fósseis, que não são tão abundantes quanto o desejado. Quando são encontrados, muitas vezes não possuem uma boa qualidade, pois enfrentam diversos eventos ao longo dos milhares de anos que existem e isso pode acabar danificando-os.

Esse é um dos motivos pelo qual a história da ornitofilia, ou seja, da polinização por aves, até hoje é pouco conhecida. Entretanto, às vezes alguns fósseis muito bem preservados são encontrados, como é o caso do esqueleto de uma ave do Eoceno Médio, da região de Messel, na Alemanha, pertencente ao táxon Pumiliornis.

Seu conteúdo estomacal estava preservado e nele foram encontrados numerosos grãos de pólen de uma angiosperma dicotiledônea. Além disso, a morfologia do seu esqueleto também sugere que ele era um visitante de flores, provavelmente um nectarívoro. Esse esqueleto representa a primeira evidência fóssil da visita de pássaros a flores, determinando uma idade mínima de 47 milhões de anos, para a origem desse tipo de interação ecológica.

O fóssil foi encontrado em 2012 e pertence à espécie Pumiliornis tessellatus. No seu estômago, além de pólen, alguns insetos também estavam presentes. Sabendo-se que os insetos podem atuar como polinizadores de plantas, possuindo registro fóssil bem documentado dessa relação desde o Cretáceo, uma questão que poderia surgir é: será que o pólen encontrado veio parar no estômago dessa ave, de forma indireta, pela ingestão dos insetos e não de uma alimentação nectarívora do Pumiliornis, propriamente dita?

Essa seria uma possibilidade se a quantidade de pólen não fosse tão grande para uma baixa quantidade de insetos, indicando uma alimentação ativa de néctar pela ave. Além disso, atualmente insetos são regularmente ingeridos por aves nectarívoras, portanto sua presença não é algo incomum.

Além do mais, o esqueleto encontrado possui bico longo e fino, com aberturas nasais que aumentam a flexibilidade, características estas que estão presentes também nos beija-flores atuais. Seus pés possuem um quarto dedo que podia ser virado para trás, sendo útil para agarrar e escalar galhos, facilitando a chegada às flores. Essas evidências sustentam a hipótese de uma dieta à base de néctar, sendo importante para, enfim, começarmos a entender um pouco melhor a história da ornitofilia.

Texto fonte: MAYR, G.; WILDE, V. (2014). Eocene fossil is earliest evidence of flower-visiting by birds. Biology Letters, v. 10, n. 5, p. 20140223.

Doi: 10.1098/rsbl.2014.0223

Disponível em: https://royalsocietypublishing.org/doi/full/10.1098/rsbl.2014.0223 acessado em: 26/04/2024

Fonte e legenda da imagem de capa: Figura do artigo: Figure 1A, Fóssil de Pumiliornis tessellatus.


Texto revisado por: Cíntia Silva, Alexandre Liparini e Milena R. Fonseca.

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