Crescimento dos dentes de sabre

Escrito em: 08 de abril de 2023

Por: João Sérgio da Fonseca Guimarães

Um animal que desperta curiosidade entre as pessoas é o famoso “Tigre Dente-de-Sabre” (Smilodon fatalis). Esse predador do Pleistoceno se destaca entre os felinos por conta da característica que lhe dá nome: os caninos.

Porém, a diferença de tamanho dos caninos levanta uma dúvida: eles cresciam no mesmo ritmo que os outros dentes? Um estudo de 2004, realizado por Robert S. Feranec da Universidade da Califórnia, buscou responder a essa questão. Para tal o estudo mediu a concentração de isótopos nos dentes de dois indivíduos de S. fatalis do sítio arqueológico Rancho La Brea.

Os isótopos são átomos de um mesmo elemento químico com pequenas diferenças em seu peso (por exemplo, com maior número de nêutrons em seu núcleo). A relação entre o número de isótopos de determinado elemento pode ser medida para fornecer informações importantes, como a idade de fósseis. Um exemplo é usarmos o carbono-14 como referência de idade para material pleistocênico. No estudo em questão, a diferença na concentração de um isótopo do oxigênio (o oxigênio 18, em relação ao oxigênio 16) pode ser usada para indicar mudanças cíclicas da temperatura, ou seja, a passagem das estações do ano e, consequentemente, a passagem dos anos.

Ao analisar os caninos dos fósseis de dois indivíduos encontrados descobriu-se que os caninos dos tigres dente de sabre cresciam em média 7 mm/mês durante um período de um ano e meio. Essa velocidade de crescimento é maior do que a dos leões atuais, em média 2,3 mm/mês. É também mais duradoura do que a dos tigres atuais, que em média crescem ao longo de 13 meses. Combinando um crescimento rápido com um crescimento duradouro, eles eram capazes de atingir os enormes caninos que conhecemos.

Com esses resultados, o estudo corrobora ainda a ideia de que os pais cuidavam dos filhotes por um período maior do que os felinos atuais, visto que eles demorariam mais tempo até estarem totalmente prontos para caçar sozinhos. Além das análises dos átomos de oxigênio, análises isotópicas de carbono 13 revelaram detalhes sobre as preferências alimentares dos “Tigres Dente-de-Sabre” do local, mostrando que eles preferiam presas grandes com alimentação baseada em plantas C3, portanto não se alimentavam em grande quantidade das espécies de cavalos encontrados no Rancho La Brea, que tinham alimentação mista.

Texto fonte: FERANEC, Robert S. Isotopic evidence of saber-tooth development, growth rate, and diet from the adult canine of Smilodon fatalis from Rancho La BreaPalaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology, v. 206, n. 3-4, p. 303-310, 2004.

Doi: 10.1016/j.palaeo.2004.01.009

Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0031018204000185

Fonte e legenda da imagem de capa: Tamanho do canino de dente de sabre. Crânio de Smilodon fatalis do Rancho la Brea.

Disponível em : https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/c/c4/Smilodon_fatalis_saber-toothed_tiger_%28Upper_Pleistocene%3B_California%2C_USA%29_7_%2815440400621%29.jpg/640px-Smilodon_fatalis_saber-toothed_tiger_%28Upper_Pleistocene%3B_California%2C_USA%29_7_%2815440400621%29.jpg, acessado em: 08/04/2023.


Texto revisado por: André Pimenta Garcia e Alexandre Liparini.

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