Escrito em: 01 de abril de 2023
Por: Lucas Gregório Campolina
O artigo publicado em 2022 pela Revista Brasileira de Paleontologia descreve a descoberta do primeiro registro de macrofósseis de plantas na Formação Boa Vista, localizada na Bacia do Tacutu (ou Takutu), no Estado de Roraima, no norte do Brasil.
A Formação Boa Vista é formada por por rochas sedimentares, permitindo a preservação de importantes registros paleontológicos, incluindo fósseis de mamíferos, répteis e plantas. Foram coletadas pequenas porções de rochas argilosas com folhas preservadas na forma de impressões e compressões no canal do Rio Tacutu durante o momento de seca. A descoberta de macrofósseis de plantas nessa formação é significativa, pois indica a presença de vida vegetal em uma época na qual se acreditava que a região ainda não tinha uma cobertura vegetal generalizada.
Os macrofósseis foram encontrados em camadas de rochas sedimentares da formação e consistem principalmente em fragmentos de caules e folhas fossilizadas, em alguns casos mumificados (com o tecido vegetal ainda preservado). A análise dos fósseis sugere que as plantas eram do período Pleistoceno Superior, tendo sido datados com até 105.000 anos.
No laboratório, para testar a hipótese de que os macrofósseis realmente pertenciam à Formação Boa Vista, os pesquisadores usaram técnicas de Difração de Raio-X (DRX) e o Laser-Induced Breakdown Spertroscopy (LIBS) para examinar os fragmentos de plantas fossilizados, determinar sua identidade taxonômica e reconhecer a fonte de origem das rochas coletadas, comparando com dados de afloramentos da Bacia. Taxonomicamente, os espécimes foram identificados como representantes de três famílias: Dilleniaceae (gênero Byrsonima), Malpighiaceae (gênero Zanthoxylum) e Rutaceae, além de outros 6 morfotipos.
Os caracteres anatômicos cuticulares das folhas mumificadas indicaram a predominância de cutículas hipoestomáticas (poros para trocas gasosas na face inferior da folha) e alto número de tricomas (formas de proteção da planta e de auxiliar absorção de água) na epiderme, que também são condições observadas em plantas adaptadas para sobreviver em meio semiárido e desértico e nas atuais espécies arbóreas predominantes no lavrado em Roraima. Isso indica que o registro fóssil dessa formação vegetal viveu sob as mesmas condições climáticas e ambientais atuais, também durante o período Pleistoceno Superior.
Os resultados do estudo fornecem novas informações sobre a evolução da vida vegetal na Terra e podem ajudar os cientistas a entender melhor como as plantas se adaptaram e evoluíram ao longo do tempo. Além disso, a descoberta pode ter implicações para a compreensão da história geológica da Bacia de Tacutu e dessa região de Roraima como um todo.
Texto fonte: Oliva D A, Souza J M, Iannuzzi R, Wankler F L (2022), First Record of Plant Macrofossil From the Boa Vista Formation, Takutu Basin, Roraima State, Brazil. Revista Brasileira de Paleontologia, 25(4):303–321. Disponível em:<https://sbpbrasil.org/publications/index.php/rbp/article/view/312/136> Acesso em: 19/04/2024.
Fonte e legenda da imagem de capa: Análise e comparação das estruturas anatômicas fósseis das plantas. Figura 3 do artigo. Disponível em:<https://sbpbrasil.org/publications/index.php/rbp/article/view/312/136> Acesso em: 19/04/2024.
Texto revisado por: Luiza Leite e Alexandre Liparini Campos