Os verdadeiros Vagantes Brancos. A história secreta por trás dos genes dos Mamutes!

Escrito em: 07 de abril de 2023

Por: Arthur Peret Primola

Caminhando por aí de boa durante uma das grandes glaciações da Terra, os mamutes foram um dos mamíferos que viveram na conhecida Era do Gelo (Pleistoceno), que teve seu fim há, aproximadamente, 11 mil anos. Por serem animais tão grandes, belos e imponentes, além de aparecerem em diversos filmes, eles acabaram se tornando alguns dos principais representantes da megafauna do Pleistoceno.

Um fato bastante curioso é que eles nem sempre tiveram essa morfologia típica (peludos e com depósitos de gordura marrom) como os Mamutes Lanosos e Colombianos (que viveram no Pleistoceno Superior), que, na verdade, são ramificações jovens da árvore evolutiva dos mamutes.

Novos dados genômicos que ajudam a entender melhor o intervalo de tempo onde os mamutes conseguiram desenvolver adaptações para o ambiente frio se tornaram possíveis graças a três novos fósseis de mamutes do Pleistoceno Inferior e Médio, sendo eles: Dois mamutes da estepe nomeados  Krestovka e Adycha, que viveram há mais de 1 milhão de anos e representam duas linhagens genéticas independentes, e Chukochya, representante dos Mamutes Lanosos de, aproximadamente, 650 mil anos atrás e descendente da linhagem de Adycha.

Os pesquisadores fizeram análises genéticas que apontam que mais de 80% das variações genéticas, as quais permitiram os mamutes lanosos ocuparem regiões frias, já estavam presentes no seu ancestral Adycha. Esses genes estão principalmente relacionados a importantes fatores como crescimento de cabelos/pelos e queratinização, ajudando a blindar esses enormes animais contra o frio extremo da região onde habitavam. A presença de tecido marrom também é importante, pois esse tipo de tecido adiposo, que é presente em alguns animais, é usado para gerar calor em um processo chamado termogênese. Além disso, genes relacionados ao ritmo circadiano provavelmente os ajudaram a se adaptar metabolicamente às variações de luz e de temperatura ao longo dos dias e noites frios da região.

Os cientistas acreditam que o gene TRPV3 foi crucial para a adaptação desses animais ao ambiente frio do Pleistoceno Superior, pois codifica um canal receptor transiente sensível à temperatura, afetando, ao mesmo tempo, a termossensibilidade, o crescimento do cabelo e o acúmulo de depósitos de gordura. Isso foi comprovado através de estudos anteriores feitos com ratos nocaute de TRPV3 (esses animais preferem temperaturas mais frias). Curiosamente, das quatro substituições observadas no gene TRPV3 nos mamutes lanosos do Pleistoceno Superior, observamos apenas duas no mamute lanoso primitivo (Chukochya) e em seu ancestral (Adycha).

Texto fonte: Pečnerová, P., Díez-del-Molino, D., Van Der Valk, T., Dehasque, M., Götherström, A., & Dalén, L. (2021). Mammuthus sp. (Early and middle pleistocene mammoths). Trends in Genetics, v. 37(7), p. 682–683. Doi: <https://doi.org/10.1016/j.tig.2021.04.006&gt; Disponível em: <https://www.cell.com/trends/genetics/fulltext/S0168-9525(21)00102-5&gt;, acessado em 16/04/2024.

Fonte e legenda da imagem de capa: Reconstrução de um mamute e os fatores genéticos que os permitiram sobreviver ao frio do pleistoceno, ao lado um cladograma que mostra a relação filogenética entre os três fosseis encontrados. Adaptada do artigo fonte. Disponível em <https://www.cell.com/trends/genetics/fulltext/S0168-9525(21)00102-5&gt;, acessada em: 16/04/2024.


Texto revisado por: Milena R. Fonseca, Vicente Pereira de Sousa Neto e Alexandre Liparini Campos.

Deixe um comentário