Escrito em: 08 de abril de 2023
Por: Michael Teixeira
O fogo tem grande capacidade de transformar os locais que atinge. Acredita-se que essas transformações por ação do fogo aconteçam há muito tempo na história da Terra. Isso porque a Terra possui períodos geológicos com idades de milhões de anos cada um, e do Siluriano ao Quaternário já foram encontradas evidências que incêndios ocorreram nesses períodos. O carvão vegetal é uma dessas evidências pois é um registro da ocorrência de incêndios, já que ele é consequência de um evento de queima. Assim, estudos para a caracterização paleobotânica de carvão vegetal nos achados de diversas localidades ajudam a levantar questões como: a que grupo pertence, quando ocorreu, entre outras.
Um desses estudos foi realizado no Afloramento Morro Papaléo, no estado do Rio Grande do Sul. O Afloramento faz parte de uma bacia intracratônica que possui cerca 1.400.000 km2, chamada de Bacia do Paraná. O local de coleta está no município de Mariana Pimentel e é uma região que foi exposta durante as atividades de uma mina. Foram observados dois conjuntos distintos de litofaciologias trazendo variados elementos megaflorísticos e palinomorfos, que permitiram sugerir uma idade entre o Asseliano e o Sakmariano (aproximadamente entre 300 e 290 milhões de anos) e inferir sobre o ambiente ser como o de transição influenciado pelo mar, e um ambiente com pântanos ou parecido com lagos.
Ao coletar o material, foram retirados em tamanho macroscópico fragmentos característicos de carvão vegetal. Com os resultados, não foi possível determinar uma relação taxonômica mais precisa, pelo fato dos fragmentos se encontrarem comprimidos – fruto de um processo diagenético. Entretanto, foi possível observar dois morfotipos (que podem ser de uma mesma planta, porém em diferentes estágios de crescimento). A análise dos lenhos desses morfotipos sugerem que sua origem é gimnospérmica, sendo difícil uma classificação mais terminal (em razão da maceração das estruturas), mas podendo estar ligada ao morfogênero chamado Agathoxylon.
Ao analisar a deposição do material, algumas características como o tamanho e o fato dos bordos não estarem desgastados, sugerem que ocorreu uma deposição autóctone/parautóctone. Isso indica que o local de preservação (região de turfeira) estava propenso a paleoincêndios, inferindo que o ambiente tinha uma estação seca que durava ao menos dois meses. Quanto à origem dos incêndios, a observância das regiões em proximidade sugerem fenômenos vulcânicos como responsáveis, mas sem descartar que outros, como tempestades elétricas também podem ter iniciado a queima.
Glossário:
Bacia intracratônica: localizada em crosta continental estável e espessa e cuja formação acredita-se ser por separação de supercontinentes.
Litofaciologias: ligado à origem, composição e propriedades da rocha.
Palinomorfos: partículas muito pequenas, encontradas em sedimentos.
Diagenético: A diagenese é um processo geológico que ocorre após a deposição de sedimentos e antes da litificação, que é a transformação desses sedimentos em rochas sedimentares. Durante a diagenese, os sedimentos passam por uma série de mudanças físicas e químicas devido à pressão, temperatura e ação de fluidos. Isso pode incluir compactação, cimentação, recristalização e outras alterações que transformam os sedimentos em rochas sedimentares.
Autóctone/parautóctone: não houve deslocamento, o material encontrado vivia/era natural daquele local.
Texto fonte: Jasper, A.; Manfroi, J: Schmidt, E.O.; Machado, N.T.G.; Konrad, O.; Uh, D. (2011). EVIDÊNCIAS PALEOBOTÂNICAS DE INCÊNDIOS VEGETACIONAIS NO AFLORAMENTO MORRO PAPALÉO, PALEOZÓICO SUPERIOR DO RIO GRANDE DO SUL, BRASIL. Geonomos, v. 19, n. 1, p. 18-27. DOI:https://doi.org/10.18285/geonomos.v19i1.59 Disponível em: <https://periodicos.ufmg.br/index.php/revistageonomos/article/view/11778> acesso em 14/03/2023
Fonte e legenda da imagem de capa: Figura 1 do artigo: Mapa geológico simplificado da Bacia do Paraná com a localização do Afloramento Morro Papaléo [retirado de Smaniotto et al. (2006), Fig. 1, p. 312. Disponível em: <https://periodicos.ufmg.br/index.php/revistageonomos/article/view/11778> acesso em 05/04/2024.
Texto revisado por: Cíntia Silva, Luiza Borges e Alexandre Liparini.