30 de dezembro de 2023
Por: Guilherme Freitas Oliveira
No ensino médio, aprendemos sobre a relação entre as plantas terrestres seguindo uma hierarquia na qual, primeiro, vêm as briófitas, em segundo lugar, as pteridófitas, em terceiro lugar, gimnospermas e, por fim, as angiospermas. Mas e se essa relação evolutiva estiver errada? Ou então, se as plantas terrestres, também chamadas de embriófitas, tiveram sua origem em um ancestral mais antigo ainda? Bom, para entender a relação de parentesco entre as plantas, primeiramente, temos que entender a sua importância para os ecossistemas e as diversas razões para se estudar esses seres vivos. Temos alguns benefícios que a presença das embriófitas no planeta Terra nos trazem, como fixação de gás carbônico, produção de carboidratos, regulação da umidade do ar, impactos no clima de uma região, e alimento e abrigo para diversos animais.
Então, assim como sua extrema importância para regulação da vida na terra, a comunidade científica também concorda em como se deu a origem dessas plantas, as quais seriam oriundas de um ancestral comum de alga verde. Desde então, houve uma diversificação de espécies originando os grupos vegetais que conhecemos hoje. Porém, cientistas recentemente produziram o artigo “Large-Scale Phylogenomic Analyses Reveal the Monophyly of Bryophytes and Neoproterozoic Origin of Land Plants”(Danyan Su, et al. 2021), no qual relatam a descoberta de um equívoco na classificação das briófitas, por meio de análises de 103 genomas de plantas atuais e 10 novos genomas de briófitas, além de 22 fósseis. O que demonstra que, possivelmente, o ancestral comum de todas as plantas é muito mais antigo do que a gente realmente acreditava ser.
Para entender esse equívoco, temos que entender quem são as briófitas. Briófitas são o segundo maior grupo em biodiversidade de flora no mundo, elas são caracterizadas por serem pequenas plantas que, em geral, não apresentam vasos condutores especializados e tem como principal característica a sua forma gametofítica – produtora de gametas – como estágio dominante no seu ciclo de vida. Elas podem ser divididas em: musgos, hepáticas e antóceros. Quando vamos aprender no ensino médio e até mesmo na graduação sobre a relação de parentesco das briófitas, ela é apresentada de maneira parafilética (quando não refletem as relações evolutivas entre os grupos), em que primeiro temos as hepáticas e os musgos como grupo irmão de antóceros e das demais traqueófitas (plantas com vasos condutores). Mas aí, leitor, você se pergunta, o que essa organização parafilética implica na origem das plantas terrestres e das traqueófitas? Eu te respondo!
O grande problema de considerar as briófitas como grupo parafilético é que você assumirá que diversas características compartilhadas entre o grupo surgiram mais de uma vez de forma independente e em pouquíssimo tempo de diferença, o que é possível, porém improvável. Assim, os resultados dessa pesquisa mostraram que as briófitas são um grupo monofilético, o que significa que todas as briófitas compartilham um ancestral comum exclusivo. Isso confirma a hipótese de que as briófitas são um grupo irmão das outras plantas terrestres, como as samambaias, coníferas e angiospermas. Além disso, a pesquisa mostrou que as plantas terrestres surgiram no Neoproterozoico, cerca de 1 bilhão de anos atrás, muito antes do que se pensava anteriormente (700-515 MA).
Essas descobertas são importantes porque ajudam a entender melhor a evolução das plantas terrestres e sua adaptação ao ambiente terrestre. As briófitas são importantes na colonização de ambientes terrestres úmidos e na formação de solos. Além disso, a datação da origem das plantas terrestres pode ter implicações para a evolução de outros organismos e para a história do clima global. Em resumo, o estudo “Large-Scale Phylogenomic Analyses Reveal the Monophyly of Bryophytes and Neoproterozoic Origin of Land Plants” trouxe novas descobertas sobre a evolução das plantas terrestres, confirmando a monofilia das briófitas e mostrando que as plantas terrestres surgiram muito antes do que se pensava. Essas descobertas são importantes para entender melhor a biologia evolutiva das plantas e suas implicações ecológicas e climáticas. Obrigado pela leitura, espero ter contribuído para seu conhecimento!
Artigo fonte: Su, D.; Yang, L.; Shi, X.; Ma, X.; Zhou, X.; Hedges, S.B.; Zhong, B. (2021). Large-Scale Phylogenomic Analyses Reveal the Monophyly of Bryophytes and Neoproterozoic Origin of Land Plants. Molecular Biology and Evolution. v. 38, n. 8, p. 3332–3344. Doi: 10.1093/molbev/msab106. Disponível em: https://academic.oup.com/mbe/article/38/8/3332/6237914?login=false (acessado em: 30/12/2023)
Fonte e legenda da imagem de capa: Fóssil de briófita muda a percepção da origem das plantas terrestres! Imagem extraída de Wikicommons. Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/4/4f/Bryophyte_species_SRIC_SR_02-15-10_img1.tif/lossy-page1-640px-Bryophyte_species_SRIC_SR_02-15-10_img1.tif.jpg (acessado em 30/12/2023)